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sexta-feira, 6 de maio de 2022

A VISITA DO PRESIDENTE JOÃO PESSOA A PRINCESA

No dia 18 de fevereiro de 1930, o presidente João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque visitou a cidade de Princesa. Acompanhado de alguns auxiliares de seu governo, o chefe do Poder Executivo estadual aqui chegou à frente de uma comitiva composta por José Américo de Almeida, Secretário do Interior e Justiça; coronel Elísio Sobreira, Comandante da Força Pública do Estado; Antenor Navarro, Diretor de Saneamento da Capital e Adhemar Vidal, Chefe de Polícia da Capital. João Pessoa foi o terceiro presidente do Estado a visitar Princesa (antes a cidade havia recebido os presidentes: Solon de Lucena e João Suassuna) e o único, até então, a não trazer obra alguma para o município. Nessa data, completavam-se dois dias que o presidente paraibano havia homologado - com sua única assinatura -, a chapa eleitoral do Partido Republicano da Paraíba, composta dos nomes que disputariam as eleições do próximo dia 1º de março de 1930, tanto para a Câmara Federal como para o Senado. O problema é que a chapa registrada à revelia da Comissão Executiva do Partido omitia os nomes de vários próceres da política paraibana que intencionavam serem reeleitos, inclusive o do ex-presidente do Estado, João Suassuna, que era amigo íntimo e o maior aliado político do coronel José Pereira Lima. Essa exclusão já vinha causando alguns descontentamentos no seio partidário porque, a pretexto de promover a renovação da chapa, o presidente, mesmo assim, manteve o nome de seu primo Carlos Pessoa, que concorreria à reeleição como deputado federal.

Festa de recepção

Mesmo sabendo que o coronel Zé Pereira, deputado estadual à Assembleia Legislativa do Estado, não estava satisfeito com a exclusão, na chapa, do nome de seu amigo o ex-presidente João Suassuna, mesmo assim, João Pessoa resolveu visitar Princesa e o fazia também com o intuito de promover sua própria candidatura à vice-presidente da República na chapa encabeçada por Getúlio Dorneles Vargas. Aqui chegado - o que fez com algum temor de não ser bem recebido pela atitude tomada há dois dias passados, no entanto, ficou surpreso com a efusividade da recepção. Encontrou a cidade toda engalanada, enfeitada com as cores da Aliança Liberal, o encarnado, e o constante reboar de foguetões. Para recebê-lo o coronel Zé Pereira fez-se acompanhar de vários correligionários na entrada da cidade. João Pessoa, vindo de Monteiro, chegou pela estrada que liga Princesa a Flores/PE. Chegados ao centro da cidade, já estava formada, na calçada da casa do coronel, a Banda de Música “José Pereira Lima”, sob a regência do maestro Joaquim Leandro de Carvalho, a executar dobrados em homenagem ao nobre visitante. À exceção do Juiz de Direito, doutor Clímaco Xavier (que era desafeto do presidente João Pessoa), todos os representantes dos segmentos sociais da cidade estavam presentes, a exemplo do prefeito José Frazão de Medeiros Lima; do vice-prefeito Glycério Florentino Diniz; do presidente do Conselho Municipal (Câmara de Vereadores), Florentino Rodrigues Diniz (Major Floro); do vigário paroquial, padre Francisco López; do Promotor Adjunto, Manoel Medeiros Lima; do Delegado de Polícia, tenente Manoel Arruda, dentre outras autoridades.  Além de ser recepcionado com grande pompa pelo coronel, o presidente foi agraciado com um banquete de 60 talheres e com a realização de um baile gala, à noite, oferecidos pelo atento anfitrião. Esse evento teve lugar na casa do coronel José Pereira, situada à Rua Coronel Marcolino (“Rua Grande”), ocasião em que foi lida uma saudação pela estudante Hermosa Pereira e proferido, pelo cunhado do coronel, Inocêncio Justino da Nóbrega um curto discurso de saudação. Após o lauto jantar, o coronel ficou na expectativa de que o presidente lhe informaria a respeito da chapa. Em vão, nada foi dito e, logo após o início do baile, João Pessoa, após tomar parte da dança com uma das damas da alta sociedade princesense, recolheu-se em repouso, ao quarto de dormir a ele destinado.

O atentado que não houve

Um dos acompanhantes do presidente, Adhemar Vidal, após o rompimento político de Pereira com Pessoa, espalhou uma falsa informação de que o coronel, por ocasião dessa visita presidencial, mandara fechar, por fora, o quarto em que João Pessoa se instalara, com a intenção de, talvez, promover um atentado à sua vida. Posteriormente, outro membro da comitiva presidencial, José Américo de Almeida, desmentiu essa versão quando afirmou que o ato de trancar a porta dos aposentos de João Pessoa, foi para garantir segurança ao presidente. Nenhuma das duas versões têm veracidade. O quarto se foi trancado, foi feito pelo próprio hóspede e por dentro. Em que pese as insatisfações de Zé Pereira quanto à formação da chapa e por motivos outros que já vinham há muito causando dissabores e estremecimentos na relação do chefe político sertanejo com o presidente paraibano, jamais o coronel promoveria ou permitiria um atentado à vida de seu ilustre hóspede. Enquanto o presidente repousava, os membros de sua comitiva fizeram um périplo pelas ruas centrais, para conhecerem a cidade. Admiraram a estátua de Epitácio Pessoa (a única de corpo inteiro existente no Brasil), o palacete dos “Pereira”, a Igreja e outros prédios.

No dia seguinte, 19 de fevereiro, logo cedo, após o café da manhã, o coronel mandou um dos seus empregados comprar gasolina para reabastecer os veículos da comitiva presidencial. Apenas dois comerciantes negociavam combustíveis em Princesa: Nominando Diniz e Sebastião Medeiros. Segundo consta no livro de Aloysio Pereira: “Eu e meu pai o coronel José Pereira”, Nominando recusou-se a fornecer combustível para os carros de João Pessoa, com o seguinte argumento: “Não vendo gasolina a um déspota”. Interessante observar que dali a mais oito meses, seria Nominando Diniz nomeado prefeito de Princesa por José Américo de Almeida, o principal secretário de João Pessoa.

Na manhã do dia 19, o coronel instou o presidente a lhes dar informações sobre a composição da chapa. Este lhe respondeu, secamente, que um seu auxiliar faria isso e, logo após o embarque do presidente, depois de secas e formais despedidas, um ajudante de ordens entregou a Zé Pereira um papel contido da relação dos candidatos aprovados por João Pessoa e viu, o coronel, que nesse documento não constava o nome do ex-presidente João Suassuna. Essa foi a gota d’água e, o pote cheio de mágoas transbordou, nascendo aí a semente do rompimento político que ocorreria em brevíssimo tempo e que provocaria a Guerra de Princesa, o assassinato de João Pessoa e a consequente eclosão da Revolução de 1930. Na mesma noite daquele dia, o coronel José Pereira reuniu-se, na vizinha cidade pernambucana de Triunfo, com o empresário Francisco Pessoa de Queiroz, ocasião em que decidiram o rompimento político com o presidente paraibano e começaram os preparativos para a guerra que se anunciava certa. No dia seguinte, Zé Pereira enviou telegrama ao presidente João Pessoa comunicando seu rompimento político.








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