Diante da malemolência com que se apresenta a atual campanha
eleitoral, remetemos aos tempos passados recentes quando as eleições aconteciam
como se fora uma grande festa. Comícios, passeatas, carreatas, discussões sadias
nas esquinas, enfim, uma disputa acirrada que envolvia tudo e a todos. Cada um
vestia sua camisa; cantava-se os hinos que eram compostos louvando os
candidatos; as praças, “Epitácio Pessoa” e “José Nominando” viviam cheias de
eleitores; os foguetões iluminavam o céu. Era uma festa!
Nos dias de comícios de encerramento, caminhões eram
despachados para as comunidades da Zona Rural em busca dos eleitores de cada
candidato. Chegados à “rua”, lavavam os pés no açude Ibiapina – os que vinham
da banda oeste do município e, no açude Novo, aqueles oriundos do lado leste.
As moças, contra a poeira, de lenços na cabeça, sempre obedecendo às cores de
seus partidos e, os rapazes, quando não de chapéus, com os cabelos banhados de
brilhantina, todos ávidos pela farra que eram aquelas festas democráticas,
diferente dessa pachorra que é hoje.
Naqueles dias, vários namoros eram encetados. Brigas eram
apartadas pela diligente polícia, quando iam presos somente aqueles que eram
adversários dos que estavam no poder. Depois da festa democrática, o “Bolo
Doce”. Eram dois: o dos nominandistas,
na garagem de Toinho Fernandes e, o dos pereiristas,
acontecia no salão vizinho à casa de “seu” Benedito Lima. No mais das vezes,
esses forrós se acabavam, quando não por conta das confusões - que eram muitas
-, pelas pimentas malaguetas semeadas no chão dos salões, pelos adversários.
No dia da eleição,
logo cedo chegavam os eleitores em cima dos caminhões de “seu” Biu e de Zé
Mendes. Estes, traziam os que votavam em Nominando e, no caminhão de Paulo
Bento ou no ônibus de Parajara, vinham os que iam sufragar os candidatos pereiristas. Antes de votarem, todos se
dirigiam ao Palacete dos Pereira ou à Casa Grande dos Nominando em busca da
chapa com os nomes dos candidatos de suas preferências. Depositados os votos
nas urnas - quando “perdiam o valor”-, os eleitores retornavam às casas dos
chefes políticos para o necessário repasto.
O almoço era oferecido a partir do meio-dia. Nessas ocasiões,
os donos do poder, matavam bois e faziam pirão e arroz embolado para alimentar
aqueles que haviam depositado seu sufrágio em favor de seus candidatos. Os bois
de “seu” Mano eram abatidos pelo preto Buzinga e, os de Aloysio pereira, por
Batista Arruda. Na cozinha de Gonzaga Bento, labutavam: Ana Tenório, Maria Loló
e Antônia Bocão. Na de Maria Aurora: Socorro Iluminata, Maria Mumbaça e
Raimunda de Pajeú. Alguns eleitores, a exemplo dos que votavam duas vezes,
almoçavam também nas duas casas.
Depois da eleição, acontecia a apuração. Naquele tempo o voto
era manual e escrito e, a apuração, demandava mais de cinco dias. Primeiro,
apurava-se os votos dos municípios menores que compunham a Comarca, atendendo a
ordem dos mais distantes: Água Branca, Juru, Tavares e Manaíra. Depois, era a
vez de Princesa. Conhecido o candidato eleito, acontecia uma grande passeata
pelas principais ruas da cidade. A tônica das comemorações era o louvor aos
vitoriosos e o deboche aos derrotados. Depois disso, todos voltavam para casa,
as coisas continuavam normais, como sempre, e nada mudava até a próxima
eleição.
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