ODE

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

ELES ESTÃO INDO

 

Antes me diziam que um amigo do meu avô havia  morrido.  Achava natural. Afinal de contas ele já estava na idade previsível de morrer.   E a diferença de idade havida entre mim e o morto colocava um ponto final no assunto. Depois, o tempo foi passando, e com o passar dos dias fiquei sabendo da morte de vários amigos de meu pai. Como assim? Amigos de meu pai estão morrendo e não há nada a se fazer contra isso? Meu pai ficava muito triste, ia visitar a família enlutada, e na volta das visitas eu ficava olhando para ele com uma espécie de medo latente de que estivesse  diante de uma próxima vítima do cortejo mortal. 

Mas o tempo nunca parou, nem para o meu pai e nem para mim. Em um certo dia chegou a vez dele, inesperadamente e, diante dos meus olhos ele se foi deixando um gosto amargo em minha vida. A partir de então passei a compreender a dor do meu avô diante das tantas mortes de tantos amigos dele. Mas o relógio da fatalidade continuou a trabalhar com sua corda infinita. Compreendi que ele não pararia, por nada. E agora repete-se comigo as mesmas angústias que eu vi nos olhos do meu avô e do meu pai. Os meus amigos estão indo. 

Isso mesmo, eles são os escolhidos da vez. E eu faço parte dessa turma. E não há aviso prévio, ou ordem preferencial de chamada, para embarcar no trem da fatalidade que transforma qualquer um em  passageiro. O trem não tem sentimentos, qualquer paixão ou piedade, e o seu maquinista é o tempo. O tempo fatal, que nasceu no exato momento do nosso nascimento e que nos conduzirá até o nosso fim. Os meus amigos estão indo! 

Wellington Marques Lima



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