O Brasil da política é cheio dessas coisas. Aliás, Sebastião
José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal, já disse: Ascensão de pobre? Somente através da política ou da Igreja. Assim não
sendo, coadjuvante será sempre”. Essa assertiva de Pombal tem se tornado
uma praxe ao longo dos anos em várias situações e em vários lugares. No Brasil,
já tivemos algumas experiências de pessoas do mais baixo extrato social que
ascenderam a postos relevantes. Nos dois exemplos mais emblemáticos, embora díspares
no resultado, tanto Lula quanto Bolsonaro, estão nesse patamar.
Exemplo marcante, que se assemelha ao que ocorreu
recentemente, foi em 2005, quando algo inusitado aconteceu na política
brasileira. Diante do impasse político, quando o PT do então presidente Lula
não conseguiu o consenso para a eleição da presidência da Câmara dos Deputados,
surgiu um candidato alternativo, um tertius,
vindo do baixíssimo clero, um deputado pernambucano chamado Severino
Cavalcante, vulgo “Severino do Relógio”, que candidatou-se e ganhou a eleição,
desbancando os candidatos da situação e da oposição.
Severino do Relógio, um inexpressivo parlamentar - ex-prefeito
da pequena João Alfredo, lá em Pernambuco - sem traquejo, experiência ou
capacidade para o cargo, passou menos de seis meses na presidência da Câmara
Federal. Em face de um escândalo provocado por uma licitação fraudada para o
fornecimento de refeições na Câmara dos Deputados; para não ser cassado,
renunciou ao mandato. Fez jus ao velho ditado: “Quem nunca come mel, quando
come, se lambuza todo”. Nesse mesmo Brasil, a história se repetiu nos últimos
quatro anos, durante a era Bolsonaro.
Pegando carona na situação especial porque passava a política
brasileira, o então deputado federal, Jair Messias Bolsonaro, no vácuo do poder
provocado por escândalos de corrupção e pelo afadigamento do eleitorado quanto
aos políticos tradicionais, engendrou um discurso anti-políticos e de combate à
corrupção, fez-se simpático à maioria dos brasileiros e se elegeu presidente,
em 2018. Tal qual Severino, Bolsonaro era também oriundo do baixíssimo clero.
Assumindo o poder, a tônica do novo presidente foi a arrogância e a negativa de
quase tudo o que, até então, estava constituído.
Bolsonaro, militarizou o governo; negou a pandemia e ridicularizou
a vacina; chamou a primeira-dama da França de “bruaca”; arvorou-se de
“imbrochável”; facilitou a proliferação de armas de fogo; afastou-se da
comunidade internacional; tocou fogo na Amazônia; comeu pizza nas calçadas de
Nova York; fez comício em Londres, por ocasião das exéquias da rainha, e perdeu
a reeleição. Não bastasse isso, faltando dois dias para sair do Palácio do
Planalto, tentou resgatar joias pertencentes ao Estado – que haviam sido
apreendidas pela Receita Federal - para incorporá-las ao seu patrimônio
pessoal. Mesmo assim, ainda escapou com um relógio e duas abotoaduras.
O que todo o Brasil viu, na era Bolsonaro, foi um verdadeiro
descalabro, do ponto de vista da ética e da compostura. Não cessavam os
palavrões, na boca do presidente. Bolsonaro primava pelos constantes ataques às
instituições democráticas e se referia a tudo o que era público como se fora
seu: “Meu Exército”, “Minha Petrobras...” Por fim, com a derrota eleitoral para
Lula, em relutância para permanecer no poder (mesmo que derrotado), queimou
energias para tentar resgatar o que não lhe pertencia, quando determinou a
assessores palacianos, que fossem em busca daquelas benditas joias. Comeu mel,
lambuzou-se todo e ficará para a história como “Jair do relógio”. É o que
restou ao “mito”.
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