Na década de 1980, o Fórum de Princesa funcionava onde está
hoje o Ministério Público. Naquele tempo, Princesa era povoada de muitas
pessoas portadoras de deficiência mental que, perambulando pelas ruas sem
amparo governamental viviam, os “doidos”, a conversarem besteiras e a serem
chateados pelos meninos e pelos jovens. O ponto predileto de alguns desses
malucos era a esquina da loja de Waldemar Abrantes, portanto, defronte ao Fórum.
Um dos contumazes dementes que ali faziam ponto era um “galegão” chamado “Zé
Miranda”. Era alto e falava mais alto ainda com ares de gozação e desafio e, às
vezes, se fazia violento.
Recém-chegado a Princesa, o novo juiz da Comarca, era um
doutor de cor negra e de comportamento muito simples e desapegado a cerimônias.
Vestia-se com simplicidade, andava a pés e dispensava seguranças. Certa tarde,
ao chegar ao Fórum para mais um expediente, o juiz deparou-se com uma camioneta
D-20 estacionada em frente ao Cartório de João Barros (vizinho ao Fórum), com o
motorista ao volante e um homem alto, louro e mal vestido tentando empurrá-la.
Parou um instante para observar a cena e, incontinenti, o sujeito que empurrava
o carro gritou:
- Ei, craúna, me ajuda aqui! Vem cá “negão”, faz essa
caridade!
O juiz olhou ao redor e, não vendo nenhum “negão” por perto,
deduziu ser com ele que o homem falava. Entrou no Fórum e, na mesma hora, ligou
para a polícia que não se demorou a chegar.
Sem conhecer ainda as pessoas da cidade, o juiz tomou aquilo
como uma desfeita acompanhada de comportamento racista. Chegada, a polícia ao
Fórum, o juiz determinou a imediata prisão daquele atrevido que o destratara
publicamente. Afinal de contas, o Juiz era a autoridade máxima da cidade! Pedindo
licença ao magistrado, o comandante da guarda saiu do recinto para cumprir a
ordem judicial, porém, voltou em cima do rastro e, às gargalhadas, informou ao
juiz:
- Doutor João, aquele lá é Zé Miranda!
Ao que o juiz perguntou:
- E... Quem é Zé Miranda, delegado?
O policial respondeu:
- Um doido, doutor, um doido!
O juiz caiu na risada, saiu da repartição para a calçada e
foi conhecer pessoalmente aquele pobre-diabo “brancão” que confundira o juiz
com um “negão” qualquer. Na calçada do Fórum, olhando para o maluco, o
magistrado deixou o dito pelo não dito, porém, quando adentrava novamente à
repartição, ouviu de Zé Miranda:
- Sossega “negão”, você é meu crauninha!
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