Eu pertenço a duas épocas distintas e, ao mesmo tempo,
similares no que tange aos preconceitos quanto aos costumes. Semana passada,
abordado por um contemporâneo que não via há muito tempo - um cara conservador
e saudosista dos tempos de antanho - encetamos uma conversa por demais
desagradável quando ele pontuou, o tempo todo, somente sobre o que vivemos no
nosso passado de jovens. Interessante, que os valores e conceitos por ele
cultuados hoje, são os mesmos do tempo do cu quadrado. Do tempo em que diziam:
“Os mais velhos estão certos; eles é que têm o que ensinar”.
Tudo bem, isso valia para aquele tempo falto de comunicações
e cheio de censuras, tabus e preconceitos hipócritas. Uma época em que até os
livros que deveriam ser lidos pelos filhos das “famílias de bem” tinham de ter
uma observação, ao pé da página de apresentação, um indicação, com os dizeres:
“Com aprovação eclesiástica”. E esse cara me veio com a mesma conversa,
cultuando esses mesmos valores. Na verdade, um tipo que, quando jovem – lembro
ainda – abominava a calça boca-de-sino e achava efeminado os rapazes usarem
cabelos grandes. Para ele, a dança tinha de ser ao par, com o rapaz conduzindo
a moça. Dançar solto, nem pensar...
O cara é, ainda hoje, um adepto do que pregava Luiz Gonzaga,
o “Rei do Baião” quando, em resposta a uma crítica do cantor Roberto Carlos,
compôs aquele famoso xote: “Cinturinha de Pilão”. Enfim, um quadradão, que
votou em Bolsonaro, é contra o aborto, é numerário da Opus Dei e detesta gays e
negros, que para ele, são representantes de uma classe inferior. Hoje professo
do catolicismo conservador, acredita ferrenhamente em Deus e, ao mesmo tempo,
vive nababescamente desfrutando os lucros da usura, fruto da agiotagem. Um papo
desconfortável e constrangedor que só foi interrompido com a chegada de dois
netos seus, aos quais ele me apresentou.
Ambos, os rapazes, vestidos em jeans e camisetas da moda com inscrições alusivas a Guns N’Roses e Skid Row. Não bastasse isso, os dois meninos usavam brincos e
tinham as pernas raspadas e a sobrancelhas feitas. De sorte – para o avô – que
os garotos não apresentavam trejeitos efeminados. Mesmo assim, se apresentavam
em antítese ao que esse meu amigo cultuava. Diante dessas evidências
comportamentais que, acredito, o cara abominava; com ares de incomodado, logo
após a apresentação, esse amigo foi logo dizendo: “O meu genro, o pai deles, é
católico comum!” Em face dessa desculpa amarela, excludente e preconceituosa,
entendi que a tônica do conservadorismo dele era mesmo a hipocrisia.
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