ODE

sábado, 30 de março de 2024

Aleluia!

É o luto mais curto do mundo. Na cristandade, a tristeza dura somente um pouco mais de 24 horas, das três horas da tarde da Sexta-feira Santa até a meia-noite do Sábado de Aleluia. Jesus Cristo morre na sexta e ressuscita no domingo. Nesse interregno, os sinos não tocam nem a Eucaristia é celebrada. Sozinha, a matraca brada. Antigamente, além da tristeza, havia a expectativa. Tristeza pelo sacrifício do Cristo na cruz e, expectativa, pela continuidade da vida na Terra.

Alleluja! Habemus Vita! (Aleluia! Já Temos Vida!). É esse o grito de regozijo ecoado por todas as Igrejas do mundo para anunciar que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e subiu ao céu. É a Páscoa que começa, é a alegria que chega. A “boa nova!”. Até tempos recentes, acorriam todos às igrejas para a comemoração da Aleluia. Todos com o coração na mão porque era nessa oportunidade que estava em jogo o futuro da humanidade.

Nos tempos em que tudo girava em torno da orientação religiosa – que era eivada de superstições - diziam os mais velhos, que se o padre – durante a celebração da missa de Aleluia - não encontrasse um “pingo de sangue” na Bíblia, o mundo se acabaria. Guiados pela ignorância, ficavam todos apreensivos nessa expectativa de renovação da vida. De sorte que tudo sempre deu certo. Tão certo, que caiu no descrédito e ninguém acredita mais nisso, sequer dá-se mais atenção a esse ridículo ritual.

Tudo hoje é meramente simbólico. Ninguém vem mais da Zona Rural para assistir à Aleluia; não tem mais o “Bolo-doce” de Toinho Fernandes nem as barracas do padre. Até a malhação do judas é prática rara. Ninguém nem liga mais para isso. É tanto, que a missa que era celebrada à meia-noite – quando a cortina roxa caía descobrindo os santos -  agora é oficiada no horário normal das celebrações noturnas.

Agora, o ritual é simples: o padre benze o fogo, a água e os óleos e pronto. Ninguém espera mais o achamento do pingo de sangue. Vida que segue. Cada um vai para suas casas, todos levando apenas uma certeza, a de que, ano que vem, o Cristo morre de novo, ressuscita para viver nos corações dos que creem, e tudo continua como d’antes. A vida continua.



 

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