Com a vitória da Revolução de 1930, o coronel José Pereira
Lima ficou sem chão. Na qualidade de um dos protagonistas maiores das lutas que
antecederam aquele movimento, quando se pode dizer que foi Princesa o epicentro
onde ocorreram fatos relevantes, que contribuíram grandemente para a
ressureição das conspirações que culminariam com a eclosão da Revolução, a
cidade, após a vitória dos revoltosos, ficou à mercê dos inimigos do Coronel
que antes a defendia com unhas e dentes, durante os longos cinco meses em que o
município viveu em beligerância com o poder constituído do estado da Paraíba.
Acuado, Zé Pereira, atendendo conselhos dos próprios oficiais
do Exército que ocuparam a cidade após o assassinato do presidente João Pessoa
– o capitão João Facó apresentou, ao coronel, o telegrama enviado por Juarez
Távora, determinando sua prisão [de Zé Pereira] e sua imediata transferência
para Salvador na Bahia – e que, ao invés de prendê-lo o aconselharam a se
retirar, acatou a recomendação e resolveu fugir de Princesa. Já na madrugada do
dia 05 de outubro, o Coronel se deslocou de Princesa, escoltado por dois
sargentos do Exército, em direção à vizinha cidade pernambucana de Triunfo. Ali
pernoitou na casa do seu amigo e vigário da cidade, monsenhor Elizeu Duarte
Diniz.
Na manhã do dia seguinte (06/10), sabedor de que uma volante
da polícia da Paraíba estava em seu encalço, Zé Pereira transferiu-se para a
cidade de Flores/PE, onde hospedou-se na residência do coronel João do
Nascimento Lopes Barros, que era pai do telegrafista Richomer Barros. Na tarde
desse mesmo dia, chegaram a Flores 200 homens bem armados, vindos de Princesa,
com o intuito de prestar segurança ao Coronel. À noite, Zé Pereira mandou
buscar, em Princesa, sua esposa, dona Xandú, e os dois filhos, Aloysio e Luísa.
Pensou ainda em resistir, porém, seriamente aconselhado pelo
capitão João Facó, o Coronel decidiu partir em fuga, inicialmente, para o
estado de Alagoas, destino que somente ele sabia. Era a madrugada do dia 07 de
outubro. Somente na hora da partida, Zé Pereira se deu conta de que estava
completamente sem dinheiro quando foi socorrido por sua esposa, dona Xandú, que
lhe entregou 3 contos de réis. Surpreso com atitude da jovem esposa, o coronel
questionou de onde ela tirara aquele dinheiro, ao que do Xandu respondeu: “É o
dinheiro do leite!”. Dinheiro da venda do leite das vacas de Zé Pereira que ela
guardava.
Nove amigos fiéis acompanharam Zé Pereira em sua viagem de
fuga. Foram eles: Manoel Rodrigues Sinhô; Francisco Raimundo da Silva (Chicão);
Bernardo Silvestre (Turu); Antônio Pessoa de Andrade (Pitó); Abílio Cosmo; Luís
Maximiano; Cícero Marrocos; João Campos Góes (Juquinha) e Manoel Carlos de
Andrade. Chegados à cidade alagoana de Mata Grande, o Coronel convenceu seus
companheiros de fuga a retornarem a Princesa. Somente Abílio Cosmo - artífice e
amigo dileto do chefe político princesense – continuou acompanhando Zé Pereira.
Para surpresa de todos, ainda em Mata Grande, todos os oito companheiros
dispensados - após a partida de Zé Pereira para lugar incerto -, foram presos
pela polícia alagoana e, dali conduzidos para a Casa de Detenção no Recife.
Do estado de Alagoas, Zé Pereira foi para a Bahia. Depois,
sempre dizendo que ia para um lugar quando, na verdade, se dirigia para outro,
ziguezagueando por quase todo o Nordeste, tudo fazia para não deixar rastro. Em
seu périplo errante, passou algum tempo numa praia deserta do Recife; instalou-se
por alguns dias numa fazenda de um amigo em Vila Bela (atual Serra Talhada); permaneceu
algum tempo em casas de fazendeiros amigos e, outros tantos, em locais
improvisados no meio do mato. Sempre temeroso de ser encontrado pela polícia,
mudava de lugar despistando até os amigos que o acolhiam, quanto ao seu novo
itinerário. Ao longo desse período de fuga, Zé Pereira disfarçou-se de vendedor
de redes e de fumos, chegando até a mudar seu verdadeiro nome, fazendo
chamarem-no de Honorato Cavalcanti ou de Dionísio Pedro.
Arrefecidos os ânimos revolucionários, com saudade da família
e com a saúde um pouco debilitada, o Coronel resolveu dirigir-se à capital
pernambucana. Chegando ao Recife, homiziou-se numa casa de praia pertencente a
um empresário seu amigo. Ali passou quase um ano, onde se encontrou com a mulher
e os filhos. Informado de que a polícia já farejava seu esconderijo, viajou até
Rio Branco (atual Arcoverde) e dali, partiu novamente para Vila Bela, onde se
escondeu no sítio de um amigo, oportunidade que teve para rever, novamente, sua
família.
As andanças de Zé Pereira pelos sertões nordestinos
fizeram-no percorrer terras dos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,
Ceará e até o sul do Piauí. Nas brenhas dos sertões nordestinos, o Coronel
sofreu o-pão-que-o-diabo-amassou, quando morou em choupanas em meio do mato ou
em cavernas de pedras, se alimentando precariamente, tomando pouca água e
dormindo em total desconforto. Resistiu a essa adversa situação durante longos
quatro anos. Não bastassem as perseguições da polícia, em Pernambuco, sofria também
a perseguição do então interventor daquele Estado, Agamenon Magalhães que, mais
tarde, se tornaria seu amigo.
Somente em 1934, com a anistia concedida pelo presidente
Getúlio Vargas, chefe do Governo Revolucionário, Zé Pereira teve algum sossego.
Livre da perseguição política, não se livrou, no entanto, da perseguição da
polícia, quando se viu acusado de um crime que não cometera e, por isso não
achou conveniente se expor, aguardando o exarar de um habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal, o que somente
aconteceu em 1936. Em face desse alvará, o coronel José Pereira retornou a
Princesa, onde foi recebido com grande festa. Ressabiado com as coisas da
política e desgostoso com alguns acontecidos na sua ausência, mesmo vindo
sempre a Princesa, resolveu fixar residência em sua fazenda, Abóboras, no
município de Serra Talhada, onde possuía também uma casa de residência na
cidade e ali ficou até o final de sua vida.
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