Antes da globalização promovida pela disseminação dos vários
meios de comunicação (televisão, celular, internet, etc.), vivíamos no nosso
mundinho e tínhamos as nossas peculiaridades regionais preservadas. Quem, na
casa dos 60 anos, não lembra do “tunco” e da “rabissaba”? Eram expressões
genuinamente nordestinas, que se manifestavam no dia-a-dia e que, por si só,
significavam sentimentos que não careciam de palavras para identificá-los.
Lembro-me, quando criança, de ver as moças daquele tempo
reagirem, em defesa do assédio mais ostensivo de alguns rapazes atrevidos, se
expressarem, sem palavras, apenas com o tunco ou a rabissaca. O tunco, era um
estalo produzido pelo gorgomilo, uma expressão de desprezo, um muxoxo
reprovativo que significava discordância e desprezo. Já a rabissaca, era algo
mais vistoso quando alguém se dirigia, em acinte, a outra pessoa e, esta, numa
demonstração de desprezo, sacudia a cabeça, virava as costas e saía.
Nada disso existe mais. Tanto a “rabissaca” quanto o “tunco”,
são expressões tipicamente nordestinas que, depois da globalização, quando tudo
ficou “braiado”, perderam-se com o tempo. A aculturação, provocada pelo domínio
da mídia comandada pelo “sul maravilha”, nos tiraram, em grande parte, a beleza
das nossas manifestações regionais. Isso realça o nosso “complexo de
vira-latas” quando, segundo Nélson Rodrigues, sucumbimos às coisas do
conquistador em detrimento do que é nosso.
Para melhor ilustrar o nosso “viralatismo”, basta ver como
falam os comunicadores das emissoras de rádio do interior do Nordeste. Todos,
sem exceção, se expressam no jargão sulista, numa chiadeira danada o que, no
mais das vezes – dada a falta de naturalidade com o sotaque alheio -, nos
deixam até sem entender o que dizem. Para esses, falar correto é falar chiando.
São setentrionais que chiam mais do que os meridionais. Basta vermos os
noticiários televisivos das grandes redes para observarmos que, nem os de lá,
chiam tanto. Nesse mesmo diapasão estão, o tunco e a rabissaca.
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