ODE

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A DERRUBADA DA IGREJA VELHA







Inverno de 1967. Naquela época, empolgados todos pela recente construção de Brasília e com aquele sentimento de modernização por que passava o país depois do “furacão” Juscelino Kubitschek, quase todos queriam o novo. Porém, em Princesa isso aconteceu em detrimento do “velho” que era a antiga igreja da cidade e alguns outros imóveis históricos. O prédio da igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Conselho, que havia tido sua construção terminada em 1875, estava quase completando seu centenário. Infelizmente isso ficou impedido, pois, chegou a Princesa um padre, descompromissado com a história da cidade e, sem planejamento ou consulta popular, decidiu derrubar a velha igreja para construir um novo templo, sob a alegação de que o prédio estava prestes a desabar. Desculpa de amarelo, pois, poderia aquela edificação haver sido restaurada e recuperada. Mas não! Derrubou a quase centenária igreja. Para isso, contou frei Anastácio Palmeira (frade da Ordem Carmelita e vigário da Paróquia, oriundo das terras alagoanas), com o apoio do prefeito Gonzaga Bento e com a omissão intencional ou deliberada dos do grupo “Diniz”.

A ordem vinha dos céus

É sabido que naqueles idos da década de 1960, era ainda a Igreja quem mandava em tudo. O padre tinha mais importância e poder do que qualquer outra das demais autoridades constituídas. A vontade da Santa Madre Igreja, através de seu vigário, tinha de ser respeitada e era incontestável. Mesmo que esse argumento possa anistiar o prefeito, Gonzaga Bento, de alguma culpa de conivência com o crime cometido contra o patrimônio histórico municipal, ou isentar os “Nominando” de omissão, não justifica o fato de que nenhuma das autoridades constituídas do município tenham sequer tentado demover o padre desse criminoso intento. Nominando Diniz, pelo menos, ainda ofereceu um terreno (lá onde funcionava sua indústria de processamento de algodão, o antigo “vapor”, onde hoje está localizado o chamado “Bairro Maia”), para que o vigário demolidor construísse ali uma igreja nova e deixasse o antigo templo de pé, para que fosse transformado em museu (quem sabe hoje nós tivéssemos ali, um “centro velho” com aspecto bucólico contando, além do museu, com lojas de artesanato e cheio de barzinhos, o que se transformaria num ambiente altamente elegante, agradável e aconchegante). Nada convenceu ou demoveu o religioso em sua sanha destruidora. Nem o argumento de que naquele prédio histórico, vários eventos religiosos de grande significância aconteceram e que foi ali, onde vários homens e mulheres ilustres da nossa história foram batizados e casados e onde muitas reuniões importantes foram realizadas, convenceram o religioso a preservar aquele patrimônio. Nada disso foi considerado ou respeitado.


O trator

Anastácio, sem escrúpulo algum, desrespeitando a história de uma terra que não era sua, mandou passar o trator por cima de tudo, derrubou a igreja sem se importar sequer com o que existia no interior daquele templo. Não fora a população que resgatou imagens de santos, móveis e demais objetos sagrados, tudo teria sido destruído como o foram as paredes e alguns altares trabalhados caprichosamente por mestres da terra. Ainda hoje, existem imagens (esculpidas em madeira, a maioria delas pelas mãos do artista “princesense” Antônio Belarmino Barbosa (1864/1936), mais conhecido como “Mestre Belinho”), espalhadas em algumas residências da cidade e, a maioria – por ironia do destino -, no Instituto “Frei Anastácio”. Não ficou pedra sobre pedra e no local onde ficava a antiga igreja, o então prefeito, Gonzaga Bento, mandou construir uma praça para homenagear seu sogro, o coronel José Pereira Lima. Na esteira dessa queda, o padre, varreu também do centro da cidade, grande parte do casario antigo e histórico da urbe princesense.

Além da Igreja

Como se não bastasse, Anastácio promoveu também a destruição do prédio da Escola Normal “Monte Carmelo”. Derrubada a igreja, fez construir um novo templo que, sem nenhum esmero ou planejamento e sem obedecer a qualquer estilo arquitetônico, mais parece um caixão. Há quem diga que suas portas em forma de compasso (hoje reformadas), continham uma disfarçada homenagem à maçonaria. Eu, particularmente, não acredito nisso, pois, qualquer culto à maçonaria é reprovado pela Igreja Católica desde a edição da Bula Papal que determinou a excomunhão de qualquer pessoa que pertença ou cultue preceitos maçônicos. Nesse período, ficou Princesa durante quase cinco anos sem um templo da religião Católica, uma vez que a nova igreja só veio a ser inaugurada em dezembro de 1972, com a presença de Frei Damião de Bozzano e do “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga. No palanque inaugurativo estavam também o então prefeito, doutor Antônio Nominando Diniz e, em êxtase, frei Anastácio Palmeira. Hoje, o templo, depois de várias reformas, tomou aspecto menos feio. Porém, a nefasta ação promovida por aquele padre jamais deixará de enfeiar a nossa história. Além desse crime cometido contra o patrimônio histórico de Princesa, outro ocorreu na década de 1950. Era vigário da paróquia o padre carmelita frei Cirilo Maria de Araújo, quando determinou também a derrubada da igreja do Rosário. Esse templo, que foi construído por volta de 1865, destinado ao ofício religioso dos negros (estes, nos tempos passados, não podiam frequentar a igreja junto com os brancos), situava-se no final da atual Praça “Epitácio Pessoa”. No local onde existiu a referida igreja do Rosário foram construídos alguns imóveis residenciais. Ainda criança lembro-me da existência dos escombros daquela igreja. Com relação à antiga igreja de Princesa, resta aos mais novos,
as fotografias e telas de autores locais retratando o belo templo que um dia fez parte da paisagem da nossa Princesa antiga.


ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 30 DE DEZEMBRO DE 2019.

3 comentários:

  1. Boa tarde!
    Sou princesense nativo de Lagoa da Cruz, conhecí Frei Anastácio e não sabia desse seu intento destruidor da nossa cultura arquitetônica no q lamento bastante, fui coroinha no início dos anos 70 em Tavares e minha ingenuidade na época não me permitiu observar esse maléfico intento.

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  2. Dominguinhos,venho só lembrar que nesse período em Princesa Isabel, não se tinha esse sentimento ou muito menos um lei que proteje-se o Patrimônio Arquitetônico.Frei Anastácio Palmeira, não saiu quebrando tudo, muitas das imagens feita pelo Mestre Belaminio estão na própria Igreja,na Sacristia e pelo templo,e as que estão no Instituto Frei Anastácio, como o Alta Previlegiado o Alta dedicado a "São Francisco de Assis",pertencentes a Ordem Franciscana Secular,um vez que esse alta ficava na lateral da Igreja Antiga ,vale salientar,que fôra construído e pago pelos membros da OFS da época. E Frei Anastácio hoje é muito julgado pelos memorialistas ou defensores da Cultura Patrimônial,mas para época ele
    era revolucionário, não quero com isso dizer que não foi um crime.Mas por que ainda os Casarios e outros acervos de Princesa continua deliberadamente a serem destruídos.
    Att: Edson Mandu

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  3. Dominguinhos,venho só lembrar que nesse período em Princesa Isabel, não se tinha esse sentimento ou muito menos um lei que proteje-se o Patrimônio Arquitetônico.Frei Anastácio Palmeira, não saiu quebrando tudo, muitas das imagens feita pelo Mestre Belaminio estão na própria Igreja,na Sacristia e pelo templo,e as que estão no Instituto Frei Anastácio, como o Alta Previlegiado o Alta dedicado a "São Francisco de Assis",pertencentes a Ordem Franciscana Secular,um vez que esse alta ficava na lateral da Igreja Antiga ,vale salientar,que fôra construído e pago pelos membros da OFS da época. E Frei Anastácio hoje é muito julgado pelos memorialistas ou defensores da Cultura Patrimônial,mas para época ele
    era revolucionário, não quero com isso dizer que não foi um crime.Mas por que ainda os Casarios e outros acervos de Princesa continua deliberadamente a serem destruídos.
    Att: Edson Mandu

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