ODE

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

PERFIS DE PRINCESENSES ILUSTRES





LAURINDO ANTÔNIO DE MEDEIROS


LAURINDO ANTÔNIO DE MEDEIROS nasceu em Princesa, no sítio “Marinho”, localizado na Serra do Brejo, em 17 de fevereiro de 1925. Filho de Antônio Francisco de Medeiros, mais conhecido como “Antônio Neném” e de dona Maria Alves de Araújo, chamada também de “dona Lica”. Seus pais viviam da agricultura e da criação de pequenos rebanhos. Por motivo de uma epidemia de “peste bubônica”, em 1926, Antônio Neném mudou-se com a família para outro sítio próximo, chamado “Timbaúba”. Laurindo tinha três irmãs: Anália; Eliza e Zefinha. Não teve educação formal. Estudou com professores particulares providos pelo seu pai. Aprendeu a ler com o professor Esaú Leite Guimarães e teve reforço escolar de uma madrinha chamada Severina. O pai de Laurindo via nos estudos uma forma de libertação do homem e, por isso, fez conciliar o aprendizado das letras e dos números com os afazeres da roça, não forçando seu filho a tornar-se escravo do trabalho braçal.  Aos 19 anos de idade, Laurindo Antônio casou-se com dona Francisca Bezerra leite, chamada também de “Creusa”, com quem teve 14 filhos. Desses, apenas sete sobreviveram: Dimas; Antônio; Armando; Marta; Marlanja; Bosco e Sandra.

O homem

Casado, Laurindo pôs-se homem de responsabilidade e começou a exercer forte liderança no meio em que vivia. Imbuído de um forte sentimento de servir àqueles mais necessitados, passou a tomar para si, os problemas de seus circunstantes. Estava sempre pronto para resolver as coisas dos outros. Era um líder familiar. Tudo o que necessitavam os parentes e amigos, acorriam a Laurindo e este, sempre disponível e solícito para servir, tentava resolver suas demandas. Era um faz tudo: sanava problemas de saúde; apartava brigas; providenciava documentação para viabilizar aposentadorias; resolvia discórdias provocadas por heranças de terras. Tudo isso sem fazer jamais, uso da força ou da agressão verbal, tampouco exigir altos pagamentos. Era Laurindo, “O Pacificador”, “O Resolvedor”. Inteligente que era, aprendeu a arte de medir terras, conhecida como “agrimensura”. Nas palavras de seu neto homônimo: “(...) ofício este que desempenhou com bastante êxito, aceitando singelas contribuições para sobrevivência da família (...) intermediava e dirimia discórdias entre herdeiros, em terras localizadas nos mais diversos lugares como: Tavares; Princesa; Manaíra, indo até Nova Olinda, providenciando toda a papelada com o proprietário para registro nos cartórios competentes.” Além dessas atividades, estava sempre a conduzir doentes para tratamento nas granes cidades, a exemplo de João Pessoa e Recife. Nesse mister, aprendeu também a fazer alguns procedimentos como: verificar pressão arterial e ministrar alguns medicamentos, sob a orientação dos médicos e farmacêuticos de Princesa. Por algum tempo, na década de 1960, funcionou como servidor do Fisco Estadual. Depois, exerceu a função de Fiscal de Escolas no âmbito do município de Princesa, quando atendia às demandas de professores, gestores e alunos da Rede Municipal de Ensino.

Cordelista e Charadista

Laurindo sempre teve vocação para a poesia. Graças às suas frequentes viagens, conheceu grandes repentistas como Pinto do Monteiro; Os irmãos “Batista”: Otacílio, Lourival e Dimas; Lino Pedra Azul; João Furiba; Fenelon Dantas; Louro Branco; Zé Costa e o consagrado princesense, João Paraibano. Encetadas amizades com esses artistas, passou a convidá-los para frequentes “cantorias” que realizava na calçada de sua casa no sítio “Escorregada” muitas vezes ao som da queda d’água da Cachoeira do “Poço dos Morcegos”. Para tomar conhecimento do que acontecia no mundo, o nosso biografado adquiriu um aparelho de Rádio (ABC Canarinho) que servia também para todo dia, logo cedo, escutar as “cantorias” veiculadas pela “Rádio Pajeú” de Afogados da Ingazeira/PE. Através desse veículo de comunicação, escutava também a execução de músicas e canções interpretadas pelos famosos cantores: Orlando Silva; Nélson Gonçalves; Luiz Gonzaga; Augusto Calheiros; Vicente Celestino e outros. Laurindo escreveu vários cordéis, porém, não publicou nenhum. Todavia, seu destaque maior era no fazimento de charadas. Construía esses enigmas com muita destreza, rapidez e coerência de significados. Era um matuto que, se tem tido a oportunidade de ilustrar-se com maior instrução, teria dado muito maior contribuição no campo das letras, uma vez tratar-se de uma “pedra bruta” do saber carecida apenas de lapidação.

O político

Em face de seu bom desempenho, tanto no afã de servir aos mais necessitados quanto no campo das artes, foi Laurindo cooptado para adentrar na seara política. Inicialmente resistiu. Porém, para atender ao chamamento daqueles que o queriam ter como seu representante, aceitou candidatar-se a vereador. Submeteu seu nome às urnas nas eleições municipais de 1976, pelo partido ARENA – Aliança Renovadora Nacional, quando obteve 280 votos. Com o slogan de campanha: “Digno e Simples”, malgrado excelente votação obtida, não logrou êxito nas urnas quando lhe faltaram 54 sufrágios para assumir uma cadeira na Câmara Municipal de Princesa, ficando numa 3ª suplência. Em que pese ter vivido uma vida sem excessos, teve morte prematura. Aos 54 anos de idade, vítima de uma hemorragia provocada pelo estrangulamento de uma úlcera estomacal, veio a falecer numa manhã de quinta-feira, em 15 de novembro de 1979, dia em que se comemora a “Proclamação da República”. Após seu precoce desaparecimento, várias homenagens lhes foram prestadas: Moções em Congressos de Repentistas; agraciamento com o nome de uma rua na cidade de Princesa; concessão, pela Câmara Municipal de Princesa, da comenda “Dona Nathalia do Espírito Santo” (principal láurea do município); menções em livros e em trabalhos acadêmicos diversos, dentre outras. Por fim, reproduzo aqui a homenagem escrita por seu neto Laurindo Antônio de Medeiros Neto que, de forma sucinta, tem o condão de definir esse artista e filantropo conterrâneo:

Laurindo Antônio de Medeiros, poeta, charadista, cuidador de doentes, líder comunitário e político princesense, o qual embora tenha falecido sem publicar nenhuma grande obra, deixou alguns versos escritos, muitas lições, lembranças, saudades e razões suficientes para trazer comigo o sentimento de dever registrar um pouco da memória daquele que para sempre foi eleito “Digno e Simples” por filhos, netos, familiares e centenas de amigos.

Por tudo o que representou para a cultura da nossa terra, está o poeta Laurindo Antônio de Medeiros, a merecer constar inscrito nos anais dos filhos ilustres de Princesa.
·         Este escrito teve fundamental contribuição de Laurindo Antônio de Medeiros Neto (neto do biografado).

ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 25 DE DEZEMBRO DE 2019.

2 comentários:

  1. Domingos Sávio, tu não sabes o tamanho do orgulho bom e da honra que me destes ao ler todas essas verdades proferidas por você sobre meu pai. Te afirmo que esse tempo que dedicastes a escrever sobre meu velho, me promoveste uma das melhores leituras que já fiz, por que dessa maneira patrocinaste para mim, uma das viagens que mais gosto de fazer, que é viajar nas asas da memória deliciando-me nas lembranças e valores imortais deste a quem tanto devo quanto tanto amo, e com tanta veracidade o descrevestes.
    Assim sendo venho no sentimento da verdade dizer-lhe, obrigado Cara, pela gentileza de dedicar alguns espaço do seu blog para falar de quem tem todo espaço em toda minha vida, mais uma vez, obrigado.

    Bosco Medeiros.

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  2. Domingos Sávio, tu não sabes o tamanho do orgulho bom e da honra que me destes ao ler todas essas verdades proferidas por você sobre meu pai. Te afirmo que esse tempo que dedicastes a escrever sobre meu velho, me promoveste uma das melhores leituras que já fiz, por que dessa maneira patrocinaste para mim, uma das viagens que mais gosto de fazer, que é viajar nas asas da memória deliciando-me nas lembranças e valores imortais deste a quem tanto devo quanto tanto amo, e com tanta veracidade o descrevestes.
    Assim sendo venho no sentimento da verdade dizer-lhe, obrigado Cara, pela gentileza de dedicar alguns espaço do seu blog para falar de quem tem todo espaço em toda minha vida, mais uma vez, obrigado.

    Bosco Medeiros.

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