ODE

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

FRANCISCO X JOÃO XXIII




O início do pontificado do papa Francisco, eleito em março de 2013, denotava que teríamos, mais uma vez, um choque no encaminhamento das coisas da Igreja Católica no mundo. Primeiro, porque quase todos já consideram que já não é sem tempo essa necessidade. O mundo vem se modificando e se modernizando de forma muito célere. Em face disso, muitos acreditam que a Igreja de Roma - sobrevivente há mais de 2000 anos -, não pode nem deve perder o passo, mas sim acompanhar e adaptar-se aos novos tempos. O problema é que Francisco perdeu o timing, pois, o que deveria ter feito de supetão, logo no início de seu papado, tenta fazer hoje, a conta-gotas e, portanto sem o respaldo da Cúria Romana. Chico, com o intuito de relaxar aos poucos o rigor do celibato clerical, quer começar ordenando padres homens casados residentes na Amazônia Legal. Quer permitir que mulheres comecem a ser inseridas no sacerdócio, dentre outras inovações. Sem muito pulso, está sendo cerceado em sua vontade de mudar, pelos cardeais conservadores que controlam a administração da Igreja Católica em Roma. Esquece ou se vê impedido de exercitar a máxima que foi concedida aos pontífices de Roma, quando do estabelecimento da Infalibilidade Papal, determinada pelo Concílio Vaticano I, em 1870 de que: “Tudo o que ligarem na Terra será ligado no Céu e, o que desligarem na Terra, será desligado na Morada Divina”.

Velhinho de pulso


Diferente foi João XXIII. Eleito em 1958 como um papa de transição (tinha 77 anos de idade), logo que assumiu a cátedra de São Pedro, convocou um Concílio (reunião de todos os bispos do mundo) e criou Comissões propondo mudanças radicais no funcionamento da Igreja Católica. Modificou comportamentos, liturgias, hábitos, costumes e abrandou dogmas. Enfim, mudou completamente a Igreja. Reinou por apenas cinco anos e promoveu a maior revolução no seio do cristianismo católico, o que chamou de Aggiornamento. Depois de João, as missas passaram a ser celebradas na língua vernácula de cada País; os padres passaram a vestir-se como homens comuns; os fieis passaram a participar ativamente das celebrações; as mulheres foram inseridas na organização das solenidades e liturgias; qualquer pessoa, autorizada pelo cura paroquial passou a poder distribuir a Eucaristia. Isso me faz lembrar episódio que presenciei quando menino no exercício do ofício de “coroinha”, quando frei José Maria Casanova, já muito velho e cego distribuía a comunhão aos fieis em fila e deixou cair uma Hóstia Consagrada ao chão. Nesse momento, formou-se a maior confusão. O local onde caiu o “Corpo de Cristo” foi isolado e outro padre acorreu para recolher a partícula e fazer a assepsia do local para que nenhum fragmento, contido do “Corpo Divino” pudesse ali permanecer. Fruto das medidas modernizantes de João XXIII, esse exacerbado respeito acabou quando hoje, qualquer um manipula a Hóstia Consagrada e a distribui a quem bem lhe aprouver, chegado ao ponto de os próprios comungantes se apropriarem da partícula sagrada.

Sinal dos tempos

O velhinho João XXIII que foi eleito para esquentar a cadeira para um próximo papa, foi um dos pontífices mais operosos e, portanto, um dos mais importantes da Igreja Católica. Francisco, que substituiu o velhinho Bento XVI, continua titubeante quanto às reformas que a Santa Madre Igreja pede e sem a coragem necessária para enfrentar o paredão conservador que divide os interesses prementes de uma nova e moderna Igreja, afinada com os tempos modernos, impotente, faz-se refém das comodidades daqueles cardeais que não querem perder o status quo conquistado ao longo dos séculos. O esvaziamento dos templos católicos ao redor do mundo já é algo verificável; o questionamento de alguns dogmas já provoca a evasão de fieis para outras denominações cristãs. Caso Francisco não tome uma providência ou o mesmo caminho de seu antecessor (a renúncia), a Igreja poderá estar fadada ao desaparecimento.


ESCRITO POR DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 29 DE JANEIRO DE 2020.

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