O início do pontificado do papa Francisco, eleito em março de
2013, denotava que teríamos, mais uma vez, um choque no encaminhamento das
coisas da Igreja Católica no mundo. Primeiro, porque quase todos já consideram
que já não é sem tempo essa necessidade. O mundo vem se modificando e se
modernizando de forma muito célere. Em face disso, muitos acreditam que a
Igreja de Roma - sobrevivente há mais de 2000 anos -, não pode nem deve perder
o passo, mas sim acompanhar e adaptar-se aos novos tempos. O problema é que
Francisco perdeu o timing, pois, o
que deveria ter feito de supetão, logo no início de seu papado, tenta fazer
hoje, a conta-gotas e, portanto sem o respaldo da Cúria Romana. Chico, com o
intuito de relaxar aos poucos o rigor do celibato clerical, quer começar
ordenando padres homens casados residentes na Amazônia Legal. Quer permitir que
mulheres comecem a ser inseridas no sacerdócio, dentre outras inovações. Sem
muito pulso, está sendo cerceado em sua vontade de mudar, pelos cardeais
conservadores que controlam a administração da Igreja Católica em Roma. Esquece
ou se vê impedido de exercitar a máxima que foi concedida aos pontífices de
Roma, quando do estabelecimento da Infalibilidade Papal, determinada pelo
Concílio Vaticano I, em 1870 de que: “Tudo
o que ligarem na Terra será ligado no Céu e, o que desligarem na Terra, será
desligado na Morada Divina”.
Velhinho de pulso
Diferente foi João XXIII. Eleito em 1958 como um papa de
transição (tinha 77 anos de idade), logo que assumiu a cátedra de São Pedro,
convocou um Concílio (reunião de todos os bispos do mundo) e criou Comissões
propondo mudanças radicais no funcionamento da Igreja Católica. Modificou
comportamentos, liturgias, hábitos, costumes e abrandou dogmas. Enfim, mudou
completamente a Igreja. Reinou por apenas cinco anos e promoveu a maior
revolução no seio do cristianismo católico, o que chamou de Aggiornamento. Depois de João, as missas
passaram a ser celebradas na língua vernácula de cada País; os padres passaram
a vestir-se como homens comuns; os fieis passaram a participar ativamente das
celebrações; as mulheres foram inseridas na organização das solenidades e
liturgias; qualquer pessoa, autorizada pelo cura paroquial passou a poder distribuir
a Eucaristia. Isso me faz lembrar episódio que presenciei quando menino no
exercício do ofício de “coroinha”, quando frei José Maria Casanova, já muito
velho e cego distribuía a comunhão aos fieis em fila e deixou cair uma Hóstia Consagrada
ao chão. Nesse momento, formou-se a maior confusão. O local onde caiu o “Corpo
de Cristo” foi isolado e outro padre acorreu para recolher a partícula e fazer
a assepsia do local para que nenhum fragmento, contido do “Corpo Divino”
pudesse ali permanecer. Fruto das medidas modernizantes de João XXIII, esse exacerbado
respeito acabou quando hoje, qualquer um manipula a Hóstia Consagrada e a distribui
a quem bem lhe aprouver, chegado ao ponto de os próprios comungantes se
apropriarem da partícula sagrada.
Sinal dos tempos
O velhinho João XXIII que foi eleito para esquentar a cadeira
para um próximo papa, foi um dos pontífices mais operosos e, portanto, um dos
mais importantes da Igreja Católica. Francisco, que substituiu o velhinho Bento
XVI, continua titubeante quanto às reformas que a Santa Madre Igreja pede e sem
a coragem necessária para enfrentar o paredão conservador que divide os
interesses prementes de uma nova e moderna Igreja, afinada com os tempos
modernos, impotente, faz-se refém das comodidades daqueles cardeais que não
querem perder o status quo conquistado
ao longo dos séculos. O esvaziamento dos templos católicos ao redor do mundo já
é algo verificável; o questionamento de alguns dogmas já provoca a evasão de
fieis para outras denominações cristãs. Caso Francisco não tome uma providência
ou o mesmo caminho de seu antecessor (a renúncia), a Igreja poderá estar fadada
ao desaparecimento.
ESCRITO POR DOMINGOS
SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO, EM 29 DE JANEIRO DE 2020.
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