A partir de hoje, estaremos veiculando excertos de livros que
contam a história política de Princesa. Reproduziremos fatos que, de certa
forma, se apresentam relevantes para o entendimento da construção histórica do
município; da tradicional contenda das duas famílias políticas que dominam a
política municipal há quase 100 anos, enfim, sobre coisas que aconteceram e
precisam ser rememoradas para não caírem no esquecimento e para darem subsídios
àqueles que desejam resgatar a nossa história. Hoje, iniciamos com uma história
que ocorreu por ocasião das eleições municipais de 1947.
O CANDIDATO QUE VOTOU ERRADO
Fato, engraçado - segundo relato do saudoso tabelião João
Florêncio de Campos Barros, contemporâneo daquela campanha -, deu-se quando, em
visita ao então distrito de Alagoa Nova (Manaíra), em 12 de outubro de 1947,
dia da eleição para a escolha do prefeito de Princesa, o candidato pelo PSD a
esse cargo, Sebastião Medeiros, logo de manhã, caminhando por aquele arruado,
ainda à cata de votos, adentrou a uma casa de jogos de azar para conversar com
amigos e correligionários e também para tentar convencer algum adversário a
sufragar seu nome nas urnas daquele importante dia. No recinto a que foi
visitar, antes de cumprimentar as pessoas ali presentes, dependurou em um
cabide próprio que havia na sala de entrada, seu paletó, em que, em um dos
bolsos internos se encontrava, já votada, sua própria cédula eleitoral (naquele
tempo, as chapas de votação eram distribuídas pelos partidos antes do dia da
eleição, para que os votantes as preenchessem do modo que desejassem,
sufragando previamente os candidatos de sua preferência, para que fossem, no
dia da eleição, depositadas nas urnas, depois de carimbadas e assinadas pelos
respectivos membros da Mesa Receptora nas secções eleitorais). Essa chapa seria
inserta no vaso eleitoral quando de volta a Princesa.
Esperteza de Guabiraba
Nesse ínterim, enquanto cumprimentava a todos e tentava
convencer alguns eleitores a sufragarem seu nome, adentrou ao recinto, de forma
sorrateira, o senhor Elizeu Guabiraba, matuto sabido e inteligente, dado às
letras e craque no fazimento de versos, expoente, portanto, da intelectualidade
sertaneja. A essas qualidades, somava-se a de maneiro nas ações e muito bem
humorado e brincalhão. Ferrenho defensor da candidatura do udenista e amigo
Nominando Diniz, Guabiraba viu naquele momento, além do paletó que logo
imaginou pertencer a Sebastião, uma oportunidade sem par de descobrir algo que
pudesse favorecer a candidatura de seu correligionário. Imaginou que seria
oportuno verificar a indumentária superior do candidato adversário e assim o
fez. Deu com os olhos no paletó que descansava no cabide ao mesmo tempo em que
viu, sem ser visto, no vão contíguo ao da entrada da casa de jogo, o candidato
do PSD. Constatou ser do pessedista a peça de vestimenta, uma vez que o mesmo
estava com os suspensórios à mostra. Foi nos bolsos do fato e, em um deles,
encontrou o envelope eleitoral contendo a chapa já assinalada com um “x” no
quadrinho de cima, correspondente ao nome do dono do paletó. Mais do que
depressa, pegou sua própria cédula, já preenchida, assinalada também com um “x”
no quadrinho de baixo, sufragando o nome de Nominando e trocou pela chapa que
estava no bolso de Sebastião. Trocou apenas as cédulas, sem substituir o
envelope.
O candidato de sua “preferência”
Feito isso, partiu para a sala ao lado para cumprimentar o
candidato que, mesmo sendo adversário, era seu amigo de longas datas. Após os
habituais apertos de mãos, Sebastião Medeiros demorou um pouco, resolvendo em
seguida partir para Princesa, o que fez após vestir de novo o paletó e
despedir-se de todos. Chegando à sede do município, dirigiu-se imediatamente
para sua secção eleitoral e lá exerceu seu direito de cidadão, votando no
candidato de sua “preferência”: Nominando Diniz. Não deu outra. Abertas as
urnas, venceu o velho “Mano” com 2.456 votos (53,67%), botando uma diferença de
346 votos sobre Sebastião Medeiros que obteve 2.150 sufrágios (46,68%). Na
mesma eleição, porém em votação separada, foi eleito vice-prefeito, o doutor
Severiano Diniz, que obteve 2.437 votos (53,33%), contra 2.104 votos (46,33%)
depositados em favor de Severino Barbosa de Oliveira que perdeu a eleição com
uma diferença de 333 votos. Não fora a inexperiência do candidato pessedista -
e a sutil “experiência” dos amigos de Nominando -, quando deixou de tomar conta
de seu próprio voto, a diferença bem que poderia ter sido um pouco menor. Em
que pese haver tido essa oportunidade de adestrar-se no campo do embate
político-eleitoral, nem assim aprendeu a lutar, pois, Sebastião Medeiros que,
além de comerciante, fazendeiro e industrial, era também homem progressista e
dinâmico, participante e promotor de diversas organizações sociais no
município, lamentavelmente, jamais logrou êxito nas urnas princesenses.
(EXTRAÍDO DO LIVRO
“PRINCESA – HISTÓRIA E VOTO”, DE AUTORIA DE DOMINGOS SÁVIO MAXIMIANO ROBERTO,
PP. 105, 106 E 107).
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