ODE

quinta-feira, 2 de abril de 2020

JOÃO DÓRIA, DE BAILARINO A GENERAL


Por IG São Paulo Foto: Divulgação/Assessoria João Doria

Que cena linda, aquela que fora captada pelas câmeras de televisão no carnaval de São Paulo! Lá estavam eles: João Dória e Alcolumbre  bailando em pleno carnaval (ninguém é de ferro), ao som dos atabaques, dos bumbuns, tambores e maracás, numa coreografia de matar de inveja qualquer dançarina de escola de samba. Dória mostrava ao mundo a sua oculta tendência artística, mesmo diante do botox que lhe é evidente. Passinho pra lá, passinho pra cá; bundinha pra lá, bundinha pra cá (no carnaval tudo isso é permitido, faz parte do evento, ora bolas!). E eis que Dória, o novo folião da garoa, se iniciava com sucesso naquela nova espécie de tchan! (segura o tchan, amarra o tchan, libera o tchan, tchan, tchan, tchan, tchan. Quem não se lembra?). Antes haviam dito ao nosso bailarino: governador, vem aí o Coronavírus, cuidado com ele, chegará com o carnaval. Nada feito. Àquela altura dos acontecimentos não estavam falando com o governador Dória, mas, com o bailarino que iria estourar nas avenidas do carnaval paulistano. Dória pensou como Nero: quem  irá deter o meu talento artístico? Um vírus? Caso venha qualquer vírus para São Paulo eu farei um decreto proibindo a entrada de todos os   vírusus nesta cidade. Entrando aqui serão presos.  Disse-lhe o assessor: governador, vírus não tem flexão para o plural. Dória entendendo que flexão fosse uma espécie de preguiça viral, que deixa o vírus sem coragem para a prática do exercício físico, foi catedrático: então, se é assim, o vírus morrerá de tédio e de preguiça. Faltou um professor de português para Dória e para 99,999999% dos políticos brasileiros. Passado o carnaval, a sua ressaca física e moral, dentre outras cositas, o adaptável, o camaleonesco e mutante Dória foi dormir bailarino e se acordou general. Um novo Alexandre Magno, um Napoleão divorciado de sua Josefina começou a agir com garras típicas de uma verdadeira fera, que eclodia daquele novo e surpreendente Dória. Mande prender fulano. Interdite a avenida x e a ponte y. Prenda o povo em casa em quarentena e até em cinquentena, se for necessário, e soltem os presos para que eles não sejam acometidos pela Covid-19. O assessor, coitado dele, procurou os últimos resquícios do bailarino do recente carnaval, e nada. Alí estava o general de plantão, nenhum traço do bailarino pairava nele, a não ser a face, agora carrancuda, mas, com a carranca falsa de todo e qualquer botox que se prese. E o povo? O que achou o povo daquele novíssimo e pretenso bravo general? O povo, como sempre, olhou para ele, viu as suas novas vestimentas formais e alguém da plateia gritou: é o bailarino, o cara do carnaval, ele roubou essa farda de um algum cartel e está mentindo. Ao ouvir tamanho despautério o general Dória quis dar uma ordem, própria das casernas. E o que se ouviu foi uma nota  desafinada, um som por demais agudo que jamais se ouviria da boca de um verdadeiro general. O rei Dória está nu. E agora não passa do bobo da corte de si mesmo. Não há mais plateia disposta a lhe ouvir. E agora, José?   E agora, Dória? 


Wellington Marques Lima

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