DOUTOR SEVERIANO
Doutor Severiano Diniz era um homem elegante. Podia ser verão, sol a pino, quentura de derreter, não dispensava o terno branco, de diagonal, brilhoso e impecavelmente engomado. Paletó branco, calça igualmente branca, camisa branca e um chapéu de massa, cinza, eram a sua indumentária.
Passeava pela praça no entorno da igreja e tinha o costume de testar a honestidade das pessoas.
Jogava um bolo de dinheiro no chão, disfarçadamente, como se tivesse deixado cair, caminhava em passos lentos e esperava para ver o resultado.
As pessoas já sabiam que fazia de propósito e corriam a devolver o dinheiro.
Certa vez declamou, na porta do Banco do Estado, uma poesia que começava assim... “foi minha amante essa mulher que passa...”. Eu estava lá, ouvi e nunca mais esqueci.
Dele muitos precisaram, eu inclusive. Lembro da vez que entrei no consultório que mantinha ao lado da farmácia de Seu Alfredo, na descida da igreja para o São Roque e ele, depois da consulta, me passou a reprimenda:
- Vá cortar esse cabelo que isso não é coisa de homem”.
Eu tinha os cabelos longos, imitava Roberto Carlos.
Além do consultório, mantinha uma Casa de Saúde nas proximidades da Lagoa da Perdição, quase pegado ao Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho.
Morava numa bela casa, ainda hoje de pé, na mesma rua onde residiam seus parentes Nominando Diniz e Joaquim Sérgio.
E o seu belo jeep de quatro portas, que fazia o percurso Triunfo/Princesa, viajava sempre lotado.
- Vás com quem pra Triunfo?
- Vou com Doutor Severiano.
A viagem durava um dia. Doutor Severiano não passava dos 30 quilômetros.
Sua dor maior foi perder o filho, José, um rapaz vistoso, acadêmico de Medicina, dono dos corações das mocinhas prendadas de Princesa.
Mas a vida continuou e ele viveu muito.
Seus últimos dias passou em João Pessoa, desfrutando da companhia da filha Socorro Diniz, participante ativa aqui do grupo Princesa Eternamente.
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