“JOÃO PESSOA – O
sentido de uma vida e de uma época”
O livro, escrito por Epitácio Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque (Epitacinho), filho do presidente, João Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque, intitulado: “JOÃO PESSOA –
O sentido de uma vida e de uma época”, lançado pela Editora Acauã Ltda., em
1979, traz, em seu bojo, o depoimento do filho mais velho do desditoso
presidente, escrito apenas 12 anos após os acontecimentos de 1930. Como toda
obra referente àquele conturbado período da história paraibana, esse trabalho
traz referências importantes sobre a Guerra de Princesa, o que, para muitos,
foi o estopim da Revolução de 1930. É claro que, por quem foi escrito, esse
livro sofre também de certo facciosismo, quando mascara alguns fatos, dá a
outros, realce exagerado e, em alguns momentos, falta com a verdade ou
conceitua, erroneamente, algumas personalidades. Já na apresentação da obra, o
filho de Epitacinho, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque Neto, anota, a
página X, sobre seu avô: “A este pequeno
grupo de caluniadores (...) que buscam por todos os meios ao seu alcance (...)
denegrir a memória de um homem, que covardemente assassinado pelas costas,
soube cair de pé, imolando sua vida em holocausto à liberdade(...)”. é
sabido por todos que o presidente João Pessoa, assassinado pelo advogado João
Duarte Dantas, não o foi pelas costas. Na mesma apresentação, Pessoa Neto,
agradece a várias personalidades paraibanas, inclusive ao princesense, doutor
Antônio Nominando Diniz, a quem se refere, de forma exagerada: “Deputado Dr. Antônio Nominando Diniz (filho
do herói de Princesa Isabel, Nominando Muniz Diniz e continuador de sua luta)”.
No prólogo desse trabalho, escrito pelo então presidente da
República, Getúlio Vargas, em plena vigência da ditadura do Estado Novo, vale
transcrever dois parágrafos dessa parte inicial. Excerto das páginas XV e XVI:
“(...) Como isso não bastasse, para
abater-lhe o ânimo de lutador [João Pessoa], oficializou-se o cangaço no reduto
de Princesa, a fim de obrigá-lo a capitular pela força ou à míngua de recursos.
Enquanto sobejavam aos desordeiros os elementos bélicos que, abundantemente,
lhes fornecia o Governo da União e dos Estados vizinhos, impedia-se-lhe a
aquisição e recebimento de armas e munições, legitimamente destinadas à
manutenção da ordem e à defesa da autoridade legal. Assistimos, assim, a este
espetáculo: O Governo Federal cuja função precípua é manter a ordem em todo
território da República, convertera-se em instigador e protetor da desordem,
negando-se a reconhecer ao poder constituído de um Estado da Federação a
faculdade elementar de defender-se.
Foi nessa situação extremamente
delicada, quando João Pessoa ainda resistia, impávido, à arremetida subversiva
que o sitiava, tentando manter-se escudado na lei, dentro da ordem; foi nesse
transe decisivo, capaz de acelerar a reação nacional já em marcha, que a morte
o surpreendeu, emboscada na traição e inspirada em torva vingança”.
Interessante observar, nesse escrito do ex-presidente, que o
próprio reconhece que já estava em marcha: “(...) a arremetida subversiva (...) capaz
de acelerar a reação nacional”. Ou
seja, Getúlio Vargas admite que a Guerra de Princesa, por si só, já seria
suficiente para provocar um levante nacional, a Revolução de 30!
Na página 49, o autor faz uma referência a outro princesense
ilustre: Alcides Vieira Carneiro. Durante a campanha eleitoral para a escolha
do presidente da República, nas eleições de 1º de março de 1930, em que
figurava na chapa, João Pessoa, como candidato a vice de Getúlio Vargas, em meeting (comício), realizado em
Fortaleza/CE, Alcides foi designado para fazer a saudação inicial e, por ordem
do presidente (governador) do Ceará, José Carlos de Matos Peixoto, foi impedido
de continuar seu discurso, quando a cavalaria dissolveu a multidão, causando
tumulto e várias mortes. Interessante observar que, Alcides Carneiro, em que
pese ser amigo e afilhado do coronel José Pereira, mesmo com o rompimento deste
com a Aliança Liberal, continuou aliancista e defensor das candidaturas de
oposição ao Catete.
Na página 53, o livro traz uma informação interessante. Por
ocasião da visita do presidente João Pessoa a Princesa - em seu périplo para
divulgação de sua candidatura a vice-presidente da República -, este foi recebido
com grande festa e saudado, em um discurso, proferido pelo cunhado de José
Pereira, Inocêncio Justino, na casa do coronel, após o jantar. Está nessa obra,
reproduzido, ipsis litteris, o
discurso:
“Orgulhosos, assim em hospedar o
ilustre co-estaduano que nos governa, os princesense reafirmam a V. Excia. a
sua absoluta solidariedade, pedindo que na Vice-Presidência da República, junto
ao futuro Presidente Getúlio Vargas, V. Excia.
Não esqueça as necessidades da nossa terra”.
Acrescenta, o autor: “(...)
na excursão política que o governante paraibano empreendeu ao interior de seu
Estado, Princesa foi o município que maiores manifestações lhe tributou”.
Com relação à Guerra de Princesa, dando conta de haver sido
esse movimento bélico o principal fato provocador da Revolução de 1930, o autor
assinala, na página 60:
“O CASO DE PRINCESA – Este é, sem
dúvida, o ponto principal da luta política que antecedeu o movimento de
regeneração nacional deflagrado a 3 de Outubro de 1930 e que vinte e um dias
depois faria degringolar o império da violência, do suborno, da fraude e do
despotismo que assinalou o último quatriênio da velha República”. “(...)
Veremos, igualmente, como o primeiro magistrado da nação [Washington Luís] apoiou
e alimentou até o fim, a sublevação da ordem em determinado ponto [Princesa] do
território nacional”.
No livro, o filho do presidente João Pessoa, se refere à luta
de Princesa como, “Masorca”; aos que lutaram ao lado do coronel José Pereira,
como cangaceiros e bandoleiros. A página 147, afirmando o apoio do presidente
da República à insurreição de Princesa, Epitacinho escreve:
“Perdendo, a cada hora, a noção da
dignidade da sua magistratura, ele [Washington Luís] se colocou, sem rebuços,
ao lado dos bandoleiros, dispensando a estes, no decorrer de todas as fases da
luta, a mais eficiente e desvelada assistência, não trepidando, sequer, em
corresponder-se, com o chefe [José Pereira] da masorca, a quem dava, sem
intermediário, suas ordens cruéis e arbitrárias”.
Quanto ao assassinato de seu pai, o presidente João Pessoa, o
autor, num devaneio emocional de filho, assertiva que o crime perpetrado na
“Confeitaria Glória”, foi fruto de um complô que envolveu, além do presidente
Washington Luís, do governador do estado de Pernambuco de várias personalidades
políticas da Paraíba e de alguns empresários pernambucanos. Escreve a página
71:
“Da conjura que se formou na capital
pernambucana, entre João Suassuna, Júlio Lyra e irmãos Pessoa de Queiroz,
conjura a que não podia ser estranho o próprio presidente da República, e à
sombra do governo do sr. Estácio Coimbra, nasceu o plano monstruoso para abater
o símbolo da bravura e da resistência do povo paraibano contra o arbítrio e as
torpezas do senhor Washington Luís”
Na página 148, o autor se refere a Álvaro de Carvalho -
vice-presidente da Paraíba que, com a morte de João Pessoa, assumiu o governo
do Estado -, de forma injusta, como: “(...)
um débil moral que assumira o governo na qualidade de Vice-Presidente do Estado,
mandou policiar a capital pelas forças do Exército sabendo que isso sempre
repugnara ao homem que momentos antes tombara em Recife por amor da sua terra e
em defesa dos seus brios”
Por demais necessário o conhecimento do contido neste livro,
pois, nos dá luz quanto ao facciosismo sobre o relato da história recente da
Paraíba, e também, a corroboração da importância de Princesa quanto à eclosão
da Revolução de 1930. Muito do que foi escrito com exacerbada emoção, já foi
dirimido, porém, muito ainda tem de ser dito para resgatar algumas verdades.
Somente usando o instrumento da pesquisa, chegaremos a conhecer, senão
completamente, pelo menos parte das verdades escondidas ao longo do tempo.
Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, nasceu no Rio de
Janeiro, em 22 de junho de 1911. Era filho de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque
e de dona Maria Luísa Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Casou-se com dona Ana
Clara. Bacharelou-se, em 1937, pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
Político, jornalista e empresário, foi dono do jornal “Folha Trabalhista” editado na Capital paraibana. Eleito suplente
de senador, assumiu o cargo pela renúncia do titular, Adalberto Ribeiro, e
faleceu no exercício do cargo de senador da República, no Rio de Janeiro, em 24
de agosto de 1951. Além desta obra, aqui resenhada, o autor publicou mais três
livros.
DSMR, em 19 de fevereiro de 2021.
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