1930 – A Paraíba e o
inconsciente político da revolução
DINARTE VARELA BEZERRA
Lançado pela Editora CCTA - Centro de Comunicação, Turismo e
Artes da UFPB em 2016, o livro: 1930: A
Paraíba e o inconsciente político da revolução, de autoria do professor
Dinarte Varela Bezerra, contido de 237 páginas, resultado da tese apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - apresentada em julho de 2008 -, é um formidável trabalho
acadêmico que analisa e resgata verdades sobre a Revolução de 1930 na Paraíba.
Segundo o autor, a produção literária, na Paraíba, sobre a Revolução de outubro
de 1930, “(...) instaura a sintonia de uma
contradição que, ao passar dos anos foi se reproduzindo e rompe o silêncio
sobre uma realidade que permanecia reprimida e oculta, a gerar um sistema de
valores em oposição à verdade da Revolução de 30 como domínio da memória
histórica a serviço dos vencedores”.
Nesse estudo acadêmico, Princesa está presente em várias
partes do trabalho de Varela. Na página 30, o autor afirma, sobre a Guerra de
Princesa:
“A Revolta de Princesa visava a
intervenção federal no governo da Paraíba, atitude que pode ser compreendida como
manobra política do coronel José Pereira e seus aliados, os Pessoa de Queiroz,
parentes de João Pessoa. Estes construíram um vasto império mercantil, como
representantes de várias multinacionais, que abrangia a importação de farinha
de trigo, os negócios do ramo da indústria automobilística ao ramo do petróleo,
com o próprio José Pereira representante da Esso
na cidade de Princesa. (...) Foi no contexto do conflito armado entre a milícia
particular do coronel José Pereira e a Polícia Militar paraibana que ocorreu o
assassinato de João Pessoa, a 26 de julho de 1930, por João Dantas, aliado de
José Pereira, na cidade do Recife”.
De forma imparcial – por tratar-se de um estudo analítico
sobre os eventos da Revolução de 30 na Paraíba -, podemos observar no excerto
acima, que o autor não denomina os “cabras” de Zé Pereira de cangaceiros, mas de
“milícia particular”. Adiante, Varela fala dos “erros” e “lapsos” contidos nas
biografias de João Pessoa e de João Dantas, ambas de autoria de Fernando Melo, quando
realça a martirização de João Pessoa e os elogios demasiados ao homem que matou
João Pessoa.
Mesmo tratando-se de um estudo acadêmico, o livro de Varela
contém equívocos, a exemplo do contido na página 43, quando o autor se refere à
música de Luiz Gonzaga, Paraíba, de
autoria de Humberto Teixeira, como sendo dedicada à mulher do coronel José
Pereira: “Xanduzinha”. É sabido que essa Xanduzinha não era a esposa (homônima)
do coronel, mas sim a mulher de Marcolino Florentino Diniz, sobrinho e cunhado
do coronel Zé Pereira.
Realçando as causas e os efeitos das ações do reformista
governo de João Pessoa, na página 51, o autor cita Joaquim Inojosa sobre o
propósito da Reforma Tributária promovida por João Pessoa, com o intuito de
prejudicar José Pereira e os Pessoa de Queiroz, o que resultou “no ato
unilateral de independência do município de Princesa em Território Livre,
seguida da Guerra Civil paraibana”. Enfatizando a efetiva participação de
Princesa no desenrolar dos fatos que culminaram com o assassinato da
Confeitaria Glória e a consequente eclosão da Revolução de 1930, na página 63,
o autor escreve:
“Segundo Mello [o escritor Fernando
Mello], a invasão [do escritório de João Dantas], apedido de Ademar Vidal,
realizada pelo delegado Manuel Morais, não foi um ato fortuito, mas resultado
do acirramento da guerra civil de Princesa e da obsessão de João Dantas em
criar uma segunda frente de luta partindo de Natal para ocupar a capital
paraibana que estava desguarnecida, liquidando o governo paraibano, na tentativa
de causar a intervenção federal desejada pelos revoltosos”.
No livro, Varela recorre a obras de escritores consagrados
como a de Ariano Suassuna: História d’o
rei degolado nas Caatingas do Sertão: romance armorial e novela romançal
brasileira – Ao sol da Onça Caetana, onde “o escritor confirma a suspeita
de que sua narrativa [Ariano Suassuna] busca mais do que o entretenimento. Ela
se ergue como um monumento à verdade. Da memória irrompe o testemunho do
privado para nos dar a dimensão do sofrimento real”. Excerto da obra
mencionada:
“(...) Aqueles que ouvem o nome
‘Princesa’ e evocam, mesmo sem querer, tanto uma Mulher coroada, como – e mais
ainda! – a épica Cidade sertaneja, encravada no alto de uma Serra áspera e
pedregosa, Reino onde José Pereira, aliado a minha família, resistiu,
vitorioso, a um cerco de oito meses, naquele mesmo ano de 30”.
Na página 117, Varela faz um resgate histórico, ancorado no
excelente escrito do intelectual princesense, Aldo Lopes: O Dia dos Cachorros:
“A bandeira do Território Livre de
Princesa é descrita pelo narrador d’O dia
dos cachorros, autoria de Aldo Lopes, como ‘um retângulo amarelo com fundo
azul e uma estrela de cauda em forma de arco-iris. Acima, nos cantos superiores
do retângulo, havia uma flor de algodão e outra de mandacaru. (...) E,
diferente da simbolização da rubro-negra, luto e sangue, a ‘bandeira de
Princesa era outra coisa, bandeira luminosa, sensual, pulsava vida, luz e
alegria”.
Contextualizando Princesa nos fatos que desaguaram na eclosão
da Revolução de 1930, na página 122, o autor encerra:
“A atitude do governante paraibano em
aderir à chapa da Aliança Liberal terá como consequência a declaração do
município de Princesa em território livre da administração estadual e, em seu
bojo, a guerra civil paraibana, pejorativamente denominada de a ‘Revolta de
Princesa’, comandada pelo Coronel José Pereira Lima, concluída com o
assassinato de João Pessoa”.
Este livro, de excelente leitura, talvez o que trata dos
acontecimentos de 1930, na Paraíba, com maior isenção, é indispensável para
quem quer conhecer a nossa história. Em que pese ser um trabalho acadêmico, o
autor prima por uma escrita por demais compreensível.
Dinarte Varela Bezerra é professor Associado da Universidade
Federal da Paraíba, no Departamento de Jornalismo do Centro de Comunicação,
Turismo e Artes. Graduado em Comunicação Social-Jornalismo (1987), pela UFPB,
Mestre em Letras pela UFPB (2002) e Doutor em Ciências Sociais pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008).
DSMR, em 02 de abril de 2021
Caro amigo Dominguinhos
ResponderExcluirExcelente matéria dobre esse livro de Dinarte. Conheço Dinarte dos tempos da UFPB, do glorioso DAC, das lides culturais e estudantis. Sempre foi um cara muito talentoso e hoje professor conceituado nos meios acadêmicos. Embora meu livro seja um romance, obra de ficção, fico feliz em ter sido citado em seu estudo. Vou procurar o livro. Estou curioso. Este blog tem trazido a lume artigos importantes sobre a nossa história. E você, na condição de articulista e resenheiro (politiqueiro também, e por que não?) anda de rédeas soltas.