O zanôio e o bode
João Camilo, mais conhecido em Princesa como “João Jacó”, era
um preto, vesgo, neto de escravizados, que servia com fidelidade ao líder
político Nominando Diniz, também chamado de “seu” Mano. Muito trabalhador, era
também afeito a algumas lapadinhas de cachaça aos domingos.
Certo sábado, à tardinha, João Jacó – que era dono de um
estrabismo divergente que lhe espalhava o “olhar” pela cara, daqueles que não
se sabe para quem está olhando -, em preparação do tira-gosto para o domingo, se
encontrava debaixo de um grande juazeiro, perto de sua casa, com um bode amarrado,
à espera de alguém que o segurasse para poder matá-lo.
De repente aponta, na cabeceira da estrada, “seu” João
Fernandes que ia visitar seu roçado no sítio Guirra. Em que pese se tratar de
um homem tido como “bem-de-vida”, João Jacó não se fez de rogado e gritou:
- “Seu” João! Dá pro sinhô me ajudá aqui?
Fernandes, solícito que era, respondeu:
- Pois não, João, de que se trata?
O preto foi logo dizendo:
- Num é disafôro não, “seu” João, mas o sinhô pudia sigurá
esse bode pra eu matar? Nóis come a buchada dele amanhã...
- Na hora - respondeu João Fernandes, e foi logo segurando a
corda que amarrava o bicho.
Em seguida, João Jacó deu de garra um machado e, quando já ia
desfechando o golpe mortal na cabeça do caprino, João Fernandes gritou:
- Peraí, João, peraí!
- O que foi, “seu” João?
Fernandes respondeu com outra pergunta:
- Tu vai meter o ôi desse machado na cabeça de quem tu tá olhando?
João Jacó respondeu:
- É.
João Fernandes soltou a corda do animal e disse:
- O diabo! Vá matar o cão! – e seguiu seu destino em busca do
Guirra.
* Essa estória é da lavra do comerciante Joca Fernandes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário