WALDEMAR EMYGDIO DE MIRANDA, nasceu em Recife em 05 de agosto de 1897, filho do
professor Auxêncio da Silva Viana e de dona Maria dos Passos de Miranda
Andrade. Ainda pequeno, seus pais resolveram, no início do século passado,
mudarem-se para a então Vila Bela (atual Serra Talhada/PE) onde abriram uma
escola particular na Praça Sérgio Magalhães, centro daquela Vila. Ali, viveu
Emygdio de Miranda com seus pais até os 18 ou 19 anos de idade. Logo cedo se
tornou afeito ao uso de bebidas alcoólicas o que o faria contumaz consumidor e,
mais tarde, completamente dependente e viciado. Desprezava Miranda, as coisas
de valor material. Romântico e muito inteligente, desde cedo se revelou um
amante da poesia. Jovem ainda estabeleceu forte contato com os livros que eram
os instrumentos de trabalho de seus pais, ao mesmo tempo em que começou a
escrever poesias e poemas que encantavam as rodas dos saraus literários daquele
tempo.
Chegada a
Princesa
No afã de divulgar seu
trabalho e de participar de eventos culturais em outras cidades, começou a
viajar em visita às cidades vizinhas a Vila Bela. Visitou as cidades de
Caruaru, Arcoverde, Triunfo e Princesa. Aqui chegando, no início dos anos 20,
aos 25 anos de idade, encantado com a efervescência cultural que encontrou na
Vila paraibana, ali aportou com vontade de ficar. Encontrou campo fértil para o
desenvolvimento de sua arte literária até porque incentivado pelo coronel José Pereira
Lima, de quem se fez amigo por ser este também um amante da arte da poesia e,
portanto, promotor da cultura do lugar. Influenciado pelo Movimento Modernista
promovido em São Paulo quando aconteceu naquela cidade a revolucionária “Semana
da Arte Moderna”, Emygdio de Miranda, inspirado nesses novos ares artísticos e
culturais, escreveu ao pioneiro do Modernismo no Nordeste, o também poeta,
jornalista e crítico literário Joaquim Inojosa de Andrade: “É preciso entanto, confessar que ainda há bem pouco, fôra eu
partidário decidido das ideias velhas... Confesso o meu grande pecado em haver
sido passadista”. No dia 17 de outubro de 1925, Emygdio de Miranda fundou
em Princesa uma “Sociedade de Letras” denominada “Grupo Literário Joaquim Inojosa” e comunicou ao patrono em 28 de
outubro de 1925: “Ilustre doutor Joaquim
Inojosa, Recife. Os signatários da presente, membros efetivos do Grupo
Literário Joaquim Inojosa (sic) que nesta localidade foi fundado sob o vosso
patrocínio, com os nobilíssimos intuitos de trabalhar pela Escola Modernista
cujo supremo chefe aqui no Nordeste é o erguido vulto, emocionados agradecem
vossa carinhosa lembrança pela remessa que fizeste dos exemplares de Arte
Moderna e o Brasil Pandeiro (...)” (Paulo Mariano – pp. 176 e 177). Com a iniciativa
de instalar em Princesa o Movimento Modernista, Emygdio de Miranda fez com que
a nossa cidade fosse a única no estado da Paraíba a dar apoio ao Manifesto
Modernista de 1922.
Professor e
poeta
Além de poeta, foi
também, Miranda, professor tendo desempenhado essa função, com muita
competência, em Princesa. Na verdade, o poeta, de todas as cidades por onde
passou fez destacar o seu interesse especial pela Vila paraibana, pois, era aquele
lugar - nos anos 20, período que precedeu a ”Guerra de Princesa” -, um recanto
de prosperidade pelas riquezas que produzia advindas da cultura do algodão, uma
vez ser Princesa o maior produtor desse têxtil no estado da Paraíba. Emygdio de
Miranda não teve o prazer de ver suas poesias compiladas e publicadas em vida.
Após sua prematura morte, aos 35 anos de idade – causada, principalmente, pelo
vício do alcoolismo – ocorrida em 29 de maio de 1933, teve, pela generosidade
de alguns amigos, seus poemas publicados em dois livros póstumos: “Rosal” e “Rosa da Serra”. Em uma dessas publicações está essa magnífica
poesia:
A UM BURGUÊS
Tu, ventrudo
burguês analfabeto,
Escultura
rotunda da irrisão,
Para quem o
viver mais limpo e reto
Consiste em
ser devoto e ter balcão;
Tu, que
resumes todo o teu afeto
No dinheiro
– o metal da sedução
Pelo qual
negociarás abjeto
Tua esposa,
teu lar, teu coração,
Escuta, ó
ignorantaço, o que te digo:
Esse ouro
protetor, que é teu amigo,
Que te deu o
conforto de um paxá,
Pode comprar
qualquer burguês cretino;
Mas a lira
de um vate peregrino
Não compra,
não comprou, não comprará.
Emygdio de Mirando
morreu pobre e abandonado na então vila de Rio Branco (atual Arcoverde/PE) onde
foi sepultado como indigente. Hoje (29/05/2019), quando se completam 86 anos de
seu falecimento, além da homenagem já concedida quando tem seu nome aposto numa
das placas que nomina uma das ruas de Princesa, está, esse grande poeta e
educador - mesmo não tendo nascido em Princesa -, a merecer a homenagem do povo
da terra que escolheu para viver, porque considerado um ilustre princesense,
uma vez haver dado grande e significativo contributo para a construção do nosso
legado cultural.
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