ODE

sexta-feira, 20 de maio de 2022

FRANCISCO SOARES DE ARAÚJO


FRANCISCO SOARES DE ARAÚJO, nascido em Princesa em 19 de março de 1926, filho de Antônio Soares de Araújo e de dona Quitéria Lopes de Araújo, era conhecido também como Chico Soares e, mais tarde, graças ao seu extraordinário talento, recebeu a alcunha de “Canhoto da Paraíba”. Aos 08 anos de idade, foi matriculado no Grupo Escolar “Gama e Melo” onde estudou e concluiu o curso primário, único aprendizado formal que teve. Filho e neto (seu avô era exímio clarinetista) de músicos, aos 12 anos de idade, Chico começou a tocar violão e, a partir daí, aprendeu também a executar músicas ao cavaquinho e ao bandolim. Segundo o escritor princesnse Paulo Mariano, Chico Soares era músico, violonista talentoso e compositor inspirado.

Canhoto que era, Chico passou a ser assim chamado porque tocava o violão sem inverter as cordas, pois, em sua casa, onde seus irmãos – destros -, também tinham afinidade com o único instrumento comum a todos, teve de aprender a executar ao violão com as cordas na forma convencional, mesmo tocando com a mão esquerda. Na verdade, Chico Soares era um canhoto pela metade, pois, escrevia com a mão direita e era também destro quando chutava bolas de futebol. Aprendeu a tocar sozinho, mesmo porque sua casa era um verdadeiro “Conservatório” onde todos executavam algum instrumento musical. Seu pai, que era Sacristão fazia-se exímio também no tocar com as cordas dos sinos da Igreja Matriz de Princesa. Quase todas as noites, na casa de “seu” Antônio Soares, aconteciam saraus musicais, ocasião em que acorriam os amantes da boa música, tanto para tocarem algum instrumento como para se deleitarem com a arte de Orfeu. Pode-se dizer que Chico Soares foi uma virtuose do violão. Além de tocar era também compositor. Foi louvado e admirado por vários músicos, maestros, cantores e produtores musicais famosos que o elogiaram pelo seu raro talento, a exemplo de Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim, Henrique Annes, Nelson Ferreira, Rafael Rabello, Paulinho da Viola, dentre outros.

“CANHOTO DA PARAÍBA” E O MAESTRO MANOEL MARROCOS NA EXECUÇÃO DE SUAS ARTES

 

Em busca do sonho

Aos dezoito anos migrou, Chico Soares, para a cidade do Recife onde começou a se apresentar nos programas musicais das rádios da capital pernambucana. Dali, após a formação de um conjunto regional, assinou contrato com a “Rádio Tabajara” em João Pessoa onde apresentou seu talento entre 1953 a 1957 quando retornou ao Recife passando a fazer parte do grande elenco de músicos da “Rádio Jornal do Comércio do Recife”. Já reconhecido no meio artístico, participou de um sarau na residência de Jacob do Bandolim onde foi aplaudido pela fina flor da intelectualidade musical brasileira pela “sua maneira inusitada de tocar violão” e pela qualidade da execução. Nessa mesma época, incursionando na “Cidade Maravilhosa”, foi também aplaudido pela nata das rodas de choro do Rio de Janeiro. Estava então, o talento do princesense, consolidado e se disseminando pelo Brasil, pois, dentre os que aplaudiram o já então alcunhado de “Canhoto da Paraíba”, estavam Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Pixinguinha, Paulinho da Viola, Radamés Gnattali, Dilermando Reis, a pianista Tia América, dentre outros.

Em 1977 fez parte do “Projeto Pixinguinha” ao lado de Paulinho da Viola, quando percorreu o Brasil em larga excursão. Em 1994 participou do “Festival Heinnecken Concerts”, no Hotel Nacional do Rio de Janeiro ao lado novamente de Paulinho da Viola e do ícone baiano Gilberto Gil. Gravou vários discos, dentre eles: “Único Amor” (1968); “Canhoto da Paraíba: Um Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso” (1977); “Pisando em Brasa” (1993); ”Com Mais de Mil” (1994). Compôs mais de duzentas músicas e teve inúmeras gravadas pelo grupo “Época de Ouro” e pelo famoso Toquinho. Segundo o crítico musical Hermínio Bello de Carvalho: “Canhoto é um mestre na arte da composição e um virtuose em seu instrumento”. Paulinho da Viola, amigo particular do nosso biografado, disse, certa vez: “Um violão direito nas mãos de um canhoto”.

Homenagens

Foi o nosso artista maior, agraciado com os títulos de Cidadão Pessoense, de Cidadão Paraibano e também de Cidadão Pernambucano, outorgados pela Câmara Municipal de João Pessoa e pelas Assembleias Legislativas dos estados da Paraíba e de Pernambuco, respectivamente. Através da Lei Estadual nº 12.196 de 02 de maio de 2002, foi contemplado com o título de “Patrimônio Vivo de Pernambuco”. Em dezembro de 2004, foi promulgada a Lei nº 7.694, conhecida como “Lei Canhoto da Paraíba”, que visa proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais da Paraíba. Em Princesa, Chico Soares foi homenageado com uma placa que foi afixada na parede frontal da casa onde nasceu com referências sobre a sua vida e sua arte. A Rua onde está a casa em que nasceu, recebeu também o seu nome.

O fim

Em 1998 sofreu um acidente vascular cerebral que o tornou impossibilitado de continuar executando sua primorosa arte de tocar violão. Falto de recursos financeiros, foi agraciado pelo Governo da Paraíba com uma pensão que lhe ajudou a se manter em seus últimos anos de vida. Quando doente, vários dos grandes nomes do “Chorinho” e do Samba, realizaram um show beneficente, no Teatro Guararapes, no Recife, para ajudá-lo nas despesas com o tratamento de sua doença. Nosso Chico Soares veio a falecer, na cidade de Paulista/PE, em 24 de abril de 2008. Em sua homenagem, este que escreve, quando exercia o cargo de vereador, apresentou à Câmara Municipal de Princesa um Projeto de Lei instituindo a “Semana da Cultura Princesense”, dando como data-referência, 19 de março, o dia do nascimento do “Canhoto da Paraíba”, o que foi aprovado por unanimidade dos vereadores e sancionado pelo então prefeito Thiago Pereira de Sousa Soares que fez promover a primeira “Semana Cultural” em março de 2009, quando foram expostos os trabalhos de Chico Soares e de vários outros artistas princesenses. Porém, essa “Primeira Semana da Cultura Princesense” teve como foco principal a obra do nosso artista maior: “Canhoto da Paraíba”. Em 2010, por iniciativa do pesquisador Francisco Florêncio e do vereador Irismar Mangueira - com o apoio da Prefeitura Municipal de Princesa -, foram transladados, de forma solene com missa e exéquias, os restos mortais do grande artista para o cemitério de Princesa, onde repousa até hoje o espólio material daquele que fez brilhar o nome da nossa Princesa por todo o Brasil. Por tudo o que representou para a nossa terra, está Francisco Soares de Araújo, o “Canhoto da Paraíba”, a merecer a figurar no panteão de glória como um dos filhos mais ilustres de Princesa.







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