ODE

sábado, 28 de maio de 2022

Quando é chegada a hora

O decorrer da própria vida é quem nos ensina a compreender a morte. Hoje, aos quase 65 anos de idade, passo a entender quão trágica é a morte de um jovem, tanto para ele que a perde quanto para os que ficam que não a compreendem. Já nós, os mais velhos, somos assistidos por um entendimento natural que vai tomando corpo ao longo dos anos, principalmente quando atravessamos a barreira dos 50 anos. A partir daí, começamos a espreitar a "foice" e a admitirmos a possibilidade da definitiva degola.

A morte, por ser um processo natural, acredito já trazer, no nosso patrimônio genético, algo que nos faz encará-la como algo normal. É certo que - para conforto nosso -, sempre pensamos que ela vai demorar a chegar e que está mais próxima dos outros do que de nós. Erroneamente, comemoramos, com alegria, os nossos aniversários numa extravagante inversão de sentimentos, pois, a cada ano que completamos a mais, estamos nos aproximando mais da "mardita"

No estágio etário (65 anos) em que me encontro atualmente, me surpreendo quando já não encontro mais ninguém que eu possa ou deva chamar de senhor ou de senhora. Para mim, hoje, já são todos mais ou menos iguais na idade. O barulho me incomoda; conversa besta é um saco e, os momentos agradáveis que se apresentam, faço questão de vivê-los intensamente. Valorizo tudo e procuro não cultivar sentimentos duradouros, simplesmente porque não dá mais tempo. Na verdade, nós só passamos a viver de verdade, quando estamos morrendo. É aquela velha máxima: só se sabe o que se tem quando se está na iminência de perder. Tudo isso, porém, somente quando chegar a hora.







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