“A HISTÓRIA COMO EU CONTO”
RAMALHO LEITE
Esse trabalho, escrito pelo jornalista e político paraibano,
Ramalho Leite, intitulado “A história como eu conto”, foi
editado e lançado em 2017, pela Editora A UNIÃO/Forma; contém 222 páginas e
relata vários fatos inerentes à história da Paraíba. Em 10 das partes escritas,
há referências a Princesa, que vale a pena rememorar, para conhecimento das
várias interpretações que foram dadas aos fatos ocorridos em 1930. Ramalho Leite
não foi testemunha ocular, porém, na qualidade de jornalista, ateve-se aos
fatos com muita competência em garimpá-los nas folhas dos jornais da época,
tanto da Paraíba, quanto do Recife, Rio de Janeiro, etc.
Nas páginas 92 e 93, o autor faz uma referência aos “jovens turcos”, segmento político
paraibano do início do século passado que, inspirados na Revolução Turca que
derrubou o Império Otomano e instaurou a República naquele país, sob a batuta
do líder Mustafa Kemal Atatürk, se fizeram assim chamar pelas inovações que
defendiam à época. Os “jovens turcos”, aliados
do ex-presidente Epitácio Pessoa, “(...)
eram adeptos da pregação epitacista que buscava o desenvolvimento do estado,
via integração do nosso interior produtivo com o mercado litorâneo”. Em que
pese ser um movimento reformista, logo essa facção foi recheada também pelos
coronéis do sertão, inclusive por José Pereira Lima, de Princesa. Isso
corrobora o reconhecimento de que, Zé Pereira, mesmo sendo um coronel de
patente comprada, era um homem com intelecto suficiente para fazer parte de um
grupo político de vanguarda.
Outro fato interessante que, mesmo em face das várias
leituras que já fiz sobre o episódio, eu não conhecia, o que faz parte da
história que envolve o episódio da Guerra de Princesa, consta do livro ora
resenhado. Nas páginas 110 e 111, Leite escreve que a escolha do presidente da
Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, para figurar na chapa
encabeçada por Getúlio Vargas, como candidato a vice-presidente, nas eleições
de 1º de março de 1930, não foi nada que o possa engrandecer. Ao contrário,
depois da recusa de três convidados, os aliancistas recorreram a Epitácio Pessoa,
e este submeteu o sobrinho a aceitar a incumbência político-eleitoral. Primeiro,
foi convidado o senador pelo Distrito Federal, Paulo de Frontin, que recusou
alegando que estava aderindo à chapa oficial representada por Júlio Prestes e
Vital Soares. Depois, a cúpula aliancista consultou o deputado baiano, Simões
Filho, que também aderiu à chapa do Catete. Os emissários de Getúlio Vargas,
antes de João Pessoa, procuraram ainda o governador de Pernambuco, Estácio
Coimbra, que também se negou em aceitar. Restou apenas o presidente da Paraíba,
que, a 29 de julho de 1929, recebeu o seguinte telegrama do tio, Epitácio Pessoa:
“Rio – 29 de julho – Comunico autorizei
presidente Antônio Carlos convidá-lo figurar chapa como vice-presidente. Isto
significa que aceitarás”. Da imposição do tio eu já sabia, porém, sobre o
processo da escolha, tomei conhecimento nessa obra de Ramalho Leite.
Nas páginas 122, 123, 124, 126, 127 e 128, no capítulo
intitulado “Como foi vista lá fora: a ‘Guerra de Princesa’”, Ramalho Leite traz
à luz comentários sobre a insurreição princesense, quanto ao conflito de
informações travado pelos jornais da Paraíba e de Pernambuco, e sobre o que
repercutia no Rio de Janeiro e no mundo. Enquanto o comandante do Estado Maior
das Forças da Polícia Paraibana, em Piancó, José Américo de Almeida, para
agradar ao presidente João Pessoa, maquilava informações, dando conta de
vitórias mentirosas no campo de luta, e que seriam divulgadas pelo Jornal
oficial A UNIÃO e, muitas vezes
reproduzidas pelos jornais da Capital Federal, o Jornal do Commercio do Recife, veiculava notícias favoráveis ao
coronel José Pereira. De José Américo, o presidente João Pessoa recebeu o
seguinte rádio:
“Piancó – 4 – Os cangaceiros foram
surpreendidos na fazenda do Oriente, situada no município de Pombal, pela
coluna dos tenentes Manoel Benício e Marques Filho, debandando nos primeiros
tiros dos atacantes. Os bandidos recuaram, continuando as forças ao encalço dos
que fugiam. Essas correrias visam especialmente o roubo, como aconteceu com a
fazenda do coronel João Alves, neste Município, que foi despojado de seus bens,
no valor de cerca de 80:000$000.
Essa notícia, veiculada pelo jornal A UNIÃO, foi reproduzida pelo Diário
de Notícias, do Rio de Janeiro, em 08 de julho de 1930. No entanto, segundo
Ramalho Leite: “As informações ufanistas do graduado auxiliar de João Pessoa
[Zé Américo] eram, contudo, contestadas por outros informantes que conseguiam
chegar às páginas do ‘Diário’, através de correspondentes do Recife:”
“’José Pereira Amplia seu Raio de
Ação’, era a notícia. ‘Recife – 7 – Noticiam de Princeza que a gente de José Pereira
amplia seu raio de ação por outros municípios entre os quais o de Piancó,
Pombal, Patos, Souza, Conceição, Misericórdia, São José de Piranhas, São João
do Rio do Peixe, Cajazeiras e Teixeira, onde a população se mostra preocupada
com o rumo dos acontecimentos”.
Segundo o autor: “Cada
facção fazia divulgar sua própria versão”. Tudo o que acontecia em
Princesa, repercutia no Rio de Janeiro. Ambos os lados enviavam notícias que
lhes eram favoráveis para que jornais da Capital Federal veiculassem. Os de João
Pessoa davam conta de que o presidente paraibano estava entrando com ação no
STF – Supremo Tribunal Federal para que tivesse autorização para importar armas
e munições. Enquanto isso, José Pereira encaminhava, aos jornais, telegrama do
advogado, João Duarte Dantas, emitido do Recife, com o seguinte teor:
“Recife, 9, (especial para ‘A Noite’):
O deputado José Pereira recebeu o seguinte telegrama, procedente da Parahyba: ‘Nosso
amigo Heitor Santiago acaba de informar estar inteirado de fonte oficial, que
Princeza será bombardeada, de hoje até sábado, por um avião que se encontra em
Teixeira, e que empregará gazes asphyxiantes fabricados num laboratório allemão
de Rio Tinto... Confio na altivez dos princesenses, que manterão, serenos, sua
defesa heróica. Abraços (a) João Dantas’”.
Como vemos, João Dantas, exilado no Recife e, mesmo assim engajado
na luta, estivera em Princeza, por uma semana, durante o conflito, e cuidava em
prestar informações importantes ao coronel José Pereira.
No livro, Ramalho Leite discorre também sobre a repercussão
do assassinato de João Pessoa, dando conta de que a tragédia foi mesmo o
estopim da Revolução de 1930, corroborando também a influência da Guerra de
Princesa para os acontecimentos que provocaram a queda da chamada República
Velha. É, portanto, esse livro, de lançamento recente, importante para o
conhecimento da nossa história.
Severino Ramalho Leite nasceu em Bananeiras/PB, em 06 de
outubro de 1943, filho de Arlindo Rodrigues Ramalho e de dona Maria Eurídice
Leite Ramalho, casou-se com dona Eleonora Aragão Ramalho. Jornalista e
advogado, formado em 1967 pela Faculdade Direito da Universidade Federal da
Paraíba, ingressou na política em 1965 quando elegeu-se vereador do município
de Borborema. Em 1970 foi nomeado promotor de justiça em João Pessoa. Em
novembro de 1974 elegeu-se deputado estadual pela ARENA, reelegeu-se em 1978.
Eleito suplente de deputado federal em 1990, assumiu uma cadeira na Câmara
Federal em 1992. Deixando a política,
dedicou-se às letras e lançou vários livros. Hoje, aos 77 anos de idade, reside
em João Pessoa/PB.
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